SONHEI QUE.



1 COMENTÁRIO(S)
Sonhei que um indivíduo de boné, fazendo transportar-se numa viatura medonhamente alterada (amarelo pálido aliado a verde pálido, a arrojar pelo chão, vidros escuros, não sei se um Saxo se um Corsa antigo, sei só que o total cúmulo do mau gosto) colidiu propositadamente com a filial de seguros do meu vizinho, entrando directamente pela vitrine frontal do estabelecimento. Era um acto revolto. Achava que o seguro estava muito alto. O meu vizinho (o mais pacífico dos terráqueos, um santo, nunca olhei para ele senão em câmara lenta, uma languidez nos olhos que a gente se questiona para onde vai? ao que vai? onde espera chegar? assim em câmara lenta. Chama-se Adriano e na realidade não faz seguros, é serralheiro), o meu vizinho embora dentro do estabelecimento e confortavelmente sentado à secretária, ileso permaneceu após o sucedido; levanta-se munido da maior das fúrias e com um descomunal estilhaço de vidro (um triângulo perfeito) sai à rua e desata a abrir gargantas pela multidão junta fora.
Eu preferi recolher-me naquela florista que há ali assim na esquina, com umas escadinhas a subir e um WC com janela para a rua do caos - é, neste estabelecimento inexistente, ponto de espionagem de predilecção.
Entre flores não estava florista nenhuma. Assim como no talho não havia talhante, nem na mercearia merceeiro, nem no jardim o Humberto, cego de décadas.
 Em terra de portugueses, há na gente um desejo latente de sofrimento, alheio ou não. Em terra de portugueses, ao mínimo indício de tragédia a gente rejubila, passa notícia, corre a agrupar-se para ver passar a procissão das desgraças. Até ao dia em que o santo decida exterminar a assistência.

1 COMENTÁRIO(S):

Anonymous at: Thursday, 04 June, 2009 said...

Há outras mais notáveis. Por exemplo, comer caracóis! (como nessa foto)

newer post older post

O ARQUIVO.

OS VOYEURS.