ELOGIO DOS CRÍTICOS
Não escolhi este tema por acaso, escolhi-o por me sentir reconhecido. Porque estou, de facto, tão reconhecido como reconhecível.
No ano passado fiz várias conferências sobre « A Inteligência e a Musicalidade nos Animais».
Hoje vou falar-vos d'«A Inteligência e a Musicalidade nos Críticos». O tema é quase o mesmo mas com modificações, bem entendido.
Amigos meus disseram-me que era um tema ingrato. Ingrato, porquê? Não há nele ingratidão nenhuma; pelo menos, eu não vejo onde nos agarrarmos para dizer isso. Vou pois fazer, sereno, o elogio dos críticos.
Não conhecemos suficientemente os críticos; ignoramos o que fizeram, o que são capazes de fazer.
Numa palavra, são tão desconhecidos como os animais, embora tenham, como eles, a sua utilidade. Sim.
Não são apenas os criadores da Arte Crítica, que é Mestra de Todas as Artes, mas os primeiros pensadores do mundo, os livres pensadores mundanos se assim podemos chamar-lhes.
De resto, foi um crítico quem posou para o Pensador de Rodin. Eu soube-o há quinze dias, o máximo três semanas, por um crítico. O que me deu prazer, muito prazer. Rodin tinha um fraco, um grande fraco pelos críticos… Os seus conselhos eram-lhe caros, muito caros, demasiado caros, acima de qualquer preço.
Há três espécies de críticos: os importantes; os que são menos; os que não são nada. As duas últimas espécies não existem: são todos importantes…
Erik Satie, in Memória de um Amnésico
Selecção, tradução, cronologia e notas de Alberto Nunes Sampaio
1 COMENTÁRIO(S):
aahhh piano
ouvir isto dá-me arrepios (mas daqueles arrepios bons)
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