Amanhecer.



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Que se faz na hora de morrer? Volta-se
a cara contra a parede?
Agarra-se pelos ombros o que está perto e ouve?
Deita-se cada um a correr, como o que tem
as roupas incendiadas, para chegar ao fim?

Qual é o rito desta cerimónia?
Quem vela a agonia? Quem puxa o lençol?
Quem afasta o espelho por embaciar?
Porque a esta hora não há mãe nem parentes.

Já não há soluço. Nada, mais que um silêncio atroz.
Todos são uma face atenta, incrédula
De homem da outra margem.

Porque o que sucede não é verdade.


Rosario Castellanos
Rosa do Mundo - 2001 Poemas Para O Futuro
Assírio & Alvim
2001


(poemas de todos os tempos,
de todos os espaços
e de todos os lugares.)


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I know a ghost can walk through the walls
Yet I am just a man, still learning how to fall ...

I am what I am
And what I am is who I am
I know what I know
And all I know is that I fell
If only I could walk through the walls
Then maybe I would tell you who I was
Yet I am just a man still learning how to fall
Yet I am just a man still learning how to fall...

O sentimento de um ocidental.



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E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés de fel como um sinistro mar!


do poema "Horas Mortas"
Cesário Verde 



Lunchtime Atop a Skyscraper, 1932, Charles C. Ebbets

O osso da pila



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O osso da pila*
para o eduardo pires

pensávamos que se partíssemos o
osso da pila morríamos num instante sem
mais crescer, sem casar

pensávamos que o osso da pila era
o mais impressionante e que talvez fosse
articulado e que seria fundamental para crescer e para casar

pensávamos que faríamos filhos à
custa do osso da pila e que não os faríamos se
o partíssemos nem cresceríamos e nem poderíamos casar

pensávamos que casaríamos um dia, aterrorizados por
uma infância ansiosa, com as mãos no osso da pila para
o proteger, razão também pela qual achávamos ter podido
crescer e casar

pensávamos que o osso da pila justificava crescer e casar

não casámos, não partimos o osso da pila, crescemos,
devíamos ter morrido na infância, num instante




Valter Hugo Mãe
o inimigo cá dentro 
Volume contabilidade, Poesia 1996-2010 
Alfaguara, 2010
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OS VOYEURS.