Pau para todos.



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Para este Natal só peço sardinhas e um gato cor de cocó. Também convém, é claro, que haja pau.
Para que não sejam afectadas as logísticas (importações/exportações, e-shopping, airmail) e , Ó!, nem quero pensar na quantidade de felinos que se perdem deste mundo a cada conflito armado!
Pau e amor para todos.

Gostar de Labreguitos #2.



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ERRAND GIRL.
Harlan T. Bobo
My errand girl gets nothing done.
She takes all day to get a wash and out from the sun.
She takes my coins to boy downtown.
My errand girl thinks love's a waste.







MLLE. CHATTE.
Harlan T. Bobo
Elle a un chat 
(She has a cat)
J'aime le chat 
(I like the cat)
Je voudrais bien promener ce chat pour un promenade au parq
(I like very much to take the cat for a walk in the park)
Mademoiselle Chatte
(Miss Cat)




VIA um baú de segredos chamado: Eu Não Vou Ler Mais


Ensinamentos do Mestre. #2



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" A droga faz crescer. "
(...)
" Logo pela manhã, um pequeno-almoço de cavalo. "

Ensinamentos do Mestre.



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Pareces um Deus aí sentado.



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Não tiveram grandes dificuldades
para ensinar o macaco a escrever poemas:
primeiro prenderam-no à cadeira,
depois amarram-lhe à mão o lápis
(o papel já tinha sido pregado à mesa).
Então o Dr. Bluespire inclinou-se no ombro dele
e sussurrou-lhe ao ouvido:
Pareces um deus aí sentado.
Porque não experimentas escrever alguma coisa?


James Tate
(tradução de Ricardo Marques)
VIA Desejo Sinceramente

Madame Bovary #7



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( Definição )

B O V A R I S M O
"Entende-se por Bovarismo o estado de insatisfação crónica de uma pessoa, produzido pelo contraste entre as suas ilusões e aspirações (com frequência desproporcionadas relativamente às suas próprias possibilidades) e a realidade, que a costuma frustrar."

Madame Bovary #6



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( Dedicatória )

Eu, a Ana e o JP
dedicamos esta música à Madame.




B Fachada É P'ra Meninos.



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B Fachada É P'ra Meninos. Mas tanto aqui p'rá menina também.

           




Tenho zero safadeza, faço a cama, ponho a mesa p'ra jantar.
Nunca fui de ponta-e-mola, nunca me baldei à escola p'ra passear.
Sou um puto diferente, até já li o Gil Vicente sem nunca me queixar.
Tomo conta das Irmãs e p'las manhãs sou o primeiro a acordar.

Aprendi da maneira complicada a moral aprimorada do Papá.
Sei que não posso roubar, nem a dormir nem a sonhar com as alegrias que aqui não há.
Vou tentando cuidar de entender a propriedade e porque é que há malta má.
Mas se por cada coisa boa vou ficar melhor pessoa porque não ser mau p'ra já?

Às vezes dou por mim com cada mariquice que a família põe-se logo 'abusar.
Levar com a sexta mordidela e ser bonzinho p'rá cadela já me está a chatear.
Ver a infância passar co'este medo de errar, "olha o exemplo, olhas as Irmãs".
Vem a Avó e vem a Tia; todas pregam todo o dia. Não pedi por mais Mamãs.

Porque é que o bom é melhor que o mau?
Porque é que o Mal é pior que o Bem?
Porque é que é certo ser cara-de-pau, mas está mal ser filho-da-mãe?

Porque é que o bom é melhor que o mau?
Porque é que o Mal é pior que o Bem?
Porque é que é certo ser cara-de-pau, mas está mal ser filho-da-mãe?

« Questões de Moral», B Fachada É P'ra Meninos, 2010, Mbari
 


 

Madame Bovary #5



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( TOMO A LIBERDADE DE VER EMMA BOVARY EM CADA UMA: Anna, Viola and Özlem for Marie Claire Turkey November 2010. Shot by Ayten Alpun. Styling by Hakan Öztürk. )





" The trio wears a monochromatic wardrobe of sweeping 
gowns and feminine lace in a story fueled by sin and regrets.





" A splendid combination of mystery, seduction and drama."

Madame Bovary # 4



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(Passagem)

(Pós-Emma Bovary ; «Emma olhou lentamente em redor, como quem desperta de um sonho. Depois, com a voz límpida, pediu um espelho. Permaneceu inclinada sobre ele largo tempo até que dos olhos lhe caíram duas grossas lágrimas. Inclinou até trás a cabeça, largando um largo suspiro, e, uma violenta convulsão fê-la cair de novo sobre o leito. Todos se aproximaram. Estava morta»)

La Mort de Madame Bovary, 1889, Albert Fourié



Por respeito, ou por uma espécie de sensualidade que o obrigava a proceder com lentidão as suas investigações, Carlos não tinha aberto ainda a gaveta secreta da escrivaninha na qual Emma guardava as suas coisas. Um dia, por fim, sentou-se diante dela, fez girar a chave e apertou a mola. Lá estavam todas as cartas de Rodolfo e de Léon. Devorou-as até à última. Revolveu todos os cantos, todos os móveis, todos os caixotes, atrás das paredes, soluçando, rangendo, transtornado, louco... Descobriu uma caixa que desfundou com um pontapé. O retrato de Rodolfo saltou à vista no meio de ternas cartas espalhadas.
( ...)

O abatimento de Carlos produzia assombro. Já não saía e não recebia ninguém, negando-se inclusivé a visitar os pacientes. Então disse-se que se fechava para beber.
Nas tardes de verão, pegava na filha e levava-a ao cemitério. Voltavam ao cair da noite, quando já não havia mais luz senão na praça central.
Às vezes, um curioso trepava a cerca do jardim e ficava estarrecido com aquele homem de longa barba, coberto de farrapos, intratável, que chorava ao caminhar.

(...)

Um dia, Carlos dirigiu-se ao jardim e  foi sentar-se no banco da pérgula. A luz passava através da gelosia; as folhas do parreiral desenhavam sombras sobre a brita; os jasmins embalsamavam o ambiente; o céu estava azul, e as cantáridas zumbiam em torno dos lírios em flor. E Carlos, como um adolescente, sufocava sob as vagas exalações amorosas que enchiam um penoso coração.
Às sete, a pequena Berta, que não o havia visto durante toda a tarde, veio em sua busca para o jantar.
Tinha a cabeça apoiada contra a parede, os olhos fechados, a boca aberta e, nas mãos, uma larga madeixa de cabelos negros. 
- Papá, vamos! - disse a menina. O pai não se mexeu.
E, crendo que tentava brincar, empurrou-o suavemente. Carlos caiu sobre terra. Estava morto.
Trinta e seis horas depois foi feita a autópsia. Não se lhe encontrou nada.
Uma vez vendido tudo, sobraram doze francos e setenta e cinco cêntimos que serviram para pagar a viagem da menina até casa da avó, que morreu nesse mesmo ano, e, como o avô Rouault estava paralítico, encarregou-se do trato da menina uma tia-avó, a qual, sendo pobre, a mandou para uma fábrica de fiação a ganhar a vida.

FIM.



Tenho a amizade dos gatos e dos pobres.



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Eu sou a inércia criminosa e o exílio dos cães
tenho a amizade dos gatos e dos pobres
todas as minhas esposas me foram infiéis
soçobraram numa insacável loucura
das imagens e não das almas
eles dizem que estou doido
mas o que estou é sozinho
um pouco triste
escutai-me
vou contar-vos tudo...
eu tinha-lhe dado uma cabra...
não
não estou doido
se me deres um cigarro eu continuo a história...
 
Tahar Ben Jelloun
in Arzila, Estação de Espuma
1987

É.



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« Seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos. »
Vargas Llosa, durante o discurso de entrega do Nobel, na Academia de Estocolmo.

Madame Bovary # 3



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( Passagem )

Às vezes, ocorriam-lhe ideias estranhas:
- Quando baterem as doze - dizia-lhe - pensa em mim.
E se acaso confessava que não tinha pensado nela, desfazia-se em lamentos que  irremediavelmente terminavam com as eternas perguntas:
- Amas-me?
- Claro que sim!
- Muito?
- Muito.
- Nunca amaste nenhuma outra?
- ...Crês que era virgem quando me encontraste? - exclamava Rodolfo rindo. 
Emma começava a chorar e Rodolfo esforçava-se por consolá-la, alternando com  piadas os seus juramentos amorosos.
- Oh! É que amo-te - proseguia ela - Amo-te tanto que não poderia viver sem ti! Entendes? Às vezes, quando todas as fúrias de amor me afligem, tenho desejos de ver-te. Pergunto-me: "Onde estará? Quiçá com outras mulheres. Sorrir-lhes-á ao aproximar-se." Mas não, nenhuma te agrada, verdade? Há-as mais bonitas, mas eu sei amar melhor! Sou a tua escrava, a tua manceba! És o meu rei! O meu ídolo! És bom! És formoso! És inteligente! És forte! 
Tinha ouvido tantas vezes aquelas palavras que lhe pareciam carecer de originalidade. Emma parecia-se com todas as amantes. O encanto do que é novo, resvalando pouco a pouco como um vestido, deixava ao desnudo a eterna monotonia da paixão, que apresenta sempre as mesmas formas e linguagem. Aquele homem tão prático não acertava em distinguir a desigualdade de sentimentos submetidos a uma mesma linguagem. Porque uns lábios libertinos ou vendidos lhe haviam murmurado frases por mero estilismo, não acreditava, senão muito debilmente, no candor das palavras de Emma. Há que recusar - pensava - as frase exageradas que encobrem pensamentos medíocres.
Como se a plenitude da alma não se desdobrasse algumas vezes nas metáforas mais vãs, porque ninguém pode dar a exacta medida das suas necessidades, das duas ideias nem das suas dores pela palavra humana.  Mas com esta superioridade de crítica própria de quem se mostra privado de toda a classe de relações, Rodolfo encontrou naquele amor outros gozos que explorar. Julgou incómodo todo o pudor e começou a tratá-la sem cortesias, acabando por corrompê-la. Era uma amor idiota que privilegiava Rodolfo em admiração e enchia Emma de voluptuosidade  e arrebatamento. A sua alma submergia naquela embriaguez, afogando-se, como o Duque de Clarence no seu tonel de mostro. 
Em consequência das suas práticas amorosas, Madame Bovary mudara de modos. O seu olhar tornou-se mais atrevido e a sua conversação mais livre e, inclusive, cometeu a inconveniência de passear-se pelas ruas de braço dado com Rodolfo, e de cigarrilha na boca, como que a desafiar o mundo.


(...)


 « Não te esquecerei nunca, acredita. Sempre sentirei por ti um carinho profundo, mas, um dia qualquer, mais tarde ou mais cedo, este imenso carinho - tal é o destino das coisas humanas - sem dúvida diminuirá. O cansaço apodera-se de nós e, quem sabe, se não iria eu ter a terrível dor de presenciar os teus lamentos e de comparti-los por tê-los causado? Culpa tão somente a fatalidade.»

- Esta palavra sempre produz efeito - disse para si mesmo.
Releu a carta e pareceu-lhe excelente. 
- "Pobrezinha", vai pensar que sou mais insensível que uma roca. Umas lagrimitas em cima da carta produziriam um efeito magnífico. Mas eu não posso chorar, a culpa não é minha!
Então, enchendo um copo de água, molhou nele o dedo e deixou cair uma grossa gota, que esboçou sobre a tinta uma pálida mancha. Acostou-se e fumou três cachimbos antes de se ir deitar.


Isabelle Huppert como Emma Bovary e Cristophe Malavoy como Rodolfo
em Madame Bovary (1991), de Claude Chabrol

Jean-Luc Godard & Anna Karina, 20 Ans Depuis.
(Procurei por isto durante 1000 anos, no mínimo!)



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Li acerca desta, como direi?, situação, pela primeira - e única - vez, numa daquelas pequenas edições que habitualmente acompanham as Colecções de filmes que volta e meia o Público decide lançar. Dessa feita, a colecção fazia-se intitular de algo como - perdoem-me a imprecisão, mas não a tenho aqui à mão para consulta - "Grandes Realizadores" e o livro que descrevia o incidente abaixo mencionado era  o que estava dedicado a Jean-Luc Godard (e respectiva obra, pois claro), e que acompanhava o DVD de Bande À Part, à venda nessa sexta-feira, com o jornal, por mais meia dúzia de trocos. À parte a narração contida nesse livro, e por mais que o tenha tentado, nunca consegui, à posteriori, encontrar relatos da situação, fosse onde fosse. Tal era a escassez de informação - menos que nada é, muitas vezes, impossível - que cheguei a pensar não se passar de uma cena off the record e/ou, muito provavelmente, um mero mito que circulava pelo meio. Mas não, eis a prova (~ 5:18", vídeo não visível através de leitores de feeds, como o Google Reader) : 








In an interview done decades after their 1967 divorce, in the midst of talking about their collaborations in the 1960’s that helped define the New Wave movement, the interviewer suddenly asked them (05:18"):
“Can one be happy again after having such an intense relationship?” 
In a rough translation, Anna Karina responds: “Yes, one can be happy, but in a different way.”
Godard essentially responds “No, I believe one can be much happier.” 
Anna Karina begins to tear up and excuses herself from the interview.


Anna Karina et Jean-Luc Godard se retrouvent sur le plateau de "Bains de Minuit" vingt ans après leur séparation. Au début de l'entretien, Anna est très gênée.Puis ils évoquent l'époque où ils travaillaient ensemble. Anna Karina, très émue, quitte finalement le plateau en plein interview. Jean-Luc Godard, gêné, finit en disant qu'il ne pleurera pas sur le plateau. L'entretien reprend ensuite, comme si rien ne s'était passé. Anna Karina parle de son dernier film "Cayenne Palace", d'Alain Maline et du prochain : "L'oeuvre au Noir", d'André Delvaux.


* * *

Numa entrevista feita décadas depois do seu divócio, em 1967, a meio de uma conversa acerca das colaborações que tiveram durante a década de 60, as quais ajudaram a definir o movimento Nouvelle Vague, o entrevistador pergunta-lhes (5:18"): "Pode alguém voltar a ser feliz depois de uma relação tão intensa?""Sim, pode ser-se feliz, mas de um modo diferente". Godard basicamente responde "Não, eu acredito que pode ser-se bastante mais feliz". Anna Karina começa  a chorar e pede desculpas enquanto abandona a entrevista. Numa tradução aproximada, Anna Karina responde:

Anna Karina e Jean-Luc Godard reencontram-se na plateia de "Bains de Minuit",  20 anos após a sua separação. No início da entrevista, Anna mostra-se bastante deconfortável. Depois, evocam-se os tempos em que os dois trabalharam em conjunto. Anna Karina, visivelmente emocionada, acaba por deixar o estúdio em plena entrevista. Jean-Luc Godard, embaraçado, acaba por dizer que não chorará perante uma plateia. A entrevista retoma rapidamente, como se nada se tivesse passado. Anna Karina fala do seu mais recente filme, "Cayenne Palace", d'Alain Maline e do proximo "L'Oeuvre Au Noir", dAndré Delvaux.




Se preferirem, também aqui, numa versão encurtada e legendada em italiano. 


Madame Bovary # 2



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 ( Passagem )

Emma, de frente para ele, olhava-o. Não partilhava da sua humilhação; sofria uma outra distinta.  A de ter pensado que aquele homem poderia alguma vez servir para alguma coisa, quando em mais de vinte ocasiões poderia simplesmente ter-se limitado a comprovar a sua mediocridade.
Carlos passeava-se pelo quarto e as suas botas rangiam sobre o soalho.
- Senta-te! - disse-lhe ela - Incomodas-me!
Carlos sentou-se.
Como era possível que ela, tão inteligente, se pudesse ter enganado mais uma vez? Por que deplorável capricho tinha afundado daquele modo a sua existência em contínuos sacrifícios? Recordou os seus instintos de luxo, as privações da sua alma, as misérias do matrimónio, do lar, os seus sonhos caídos no lodo como andorinhas feridas. E, por quê? Porquê?
Tinha sido por ele, por aquela criatura, por aquele homem que não compreendia nada, que não sentia nada, que estava ali tranquilamente, sem suspeitar sequer do ridículo que acabara de cair sobre o seu nome. Tinha tratado de o amar e, inclusive, tinha chorado, arrependida de ter-se entregue a outro!
Emma mordia os lábios enquanto brincava nervosamente com um pequeno pedaço de lenha que acabra de arrancar. Cravava em Carlos as pupilas, como duas flechas de fogo próximas de disparar. Tudo nele a irritava: a cara, a forma de vestir, o que não dizia, toda a sua pessoa, a sua existência. Arrependia-se, como de um crime, da sua virtude passada, e, o que ainda restava dela, desvanecia-se ante furiosos golpes de orgulho. Deleitavam-na todas as perversas ironias  do adultério triunfante, a recordação do seu amante regressava a ela outra vez como atracções de vertigem, às quais lançava a sua alma, arrastada até aquela imagem por um novo desejo. Carlos parecia-lhe tão alheio à sua vida, tão ausente, tão aniquilado e impossível, como se fosse morrer e estivesse ali a agonizar diante dos seus olhos.
Então Carlos, num arrebatamento de súbita ternura e desalento, voltou-se para a sua mulher:
- Abraça-me!
- Deixa-me! - volveu ela, encarnada de fúria.
- O que é que tens? Que se passa? - dizia o pobre homem estupefacto - Acalma-te, acalma-te! Sabes bem o quanto te quero... chega-te aqui.
- Basta! - disse Emma num tom terrível.
E, fugindo da sala, fechou com tal violência a porta que o barómetro se desprendeu da parede fazendo-se em mais de mil pedaços no  chão. Carlos deixou-se cair sobre o cadeirão, desconcertado, pensado nos motivos daquela conduta, atribuindo-a a uma enfermidade nervosa, chorando e sentindo vagamente ao seu redor algo funesto e incompreensível. 
Quando, à noite, Rodolfo chegou ao jardim, encontrou a sua amante aguardando-o junto da escadaria, sentada no primeiro degrau. Abraçaram-se e todos os seus rancores se fundiram, como a neve, com o calor daquele beijo.
In Madame Bovary
de Gustave Flaubert

 Still de Madame Bovary (1991), de C. Chabrol

Madame Bovary # 1



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 ( Passagem )

Emma permaneceu por momentos com aquele longo papel nas mãos. As faltas de ortografia sucediam-se uma após outra e Emma perseguiu o carinhoso e doce pensamento da carta, como se persegue uma galinha por entre os matagais. A tinta tinha sido seca com a cinza da chaminé, pois caiu sobre o vestido um pouco de pó cinzento. Quase acreditava ver o seu pai, debruçado sobre a lareira para pegar nas tenazes. Há quanto tempo não se sentava na arca, ao seu lado, ante o fogo, enquanto ardia um troço de lenha na chama dos juncos marinhos que crepitavam!
Recordou as soalheiras tardes de verão; os potros, que ao passar junto dela relinchavam, galopando. Sob a sua janela havia uma colmeia e ás vezes as abelhas, girando na luz, chocavam nos vidros e ricocheteavam como balas de ouro. Que felicidade a de então! Que liberdade! Quantas esperanças! Quantas ilusões! Agora tudo tinha desaparecido. Tudo se tinha consumido nas múltiplas aventuras do seu espírtio, nas sucessivas etapas da sua vida, na virgindade, no amor... Tudo se foi perdendo, constantemente, ao largo da vida, como o viajante que vai deixando parte da sua riqueza pelas hospedarias do caminho.
Mas, quem a fazia tão infeliz? Onde se escondia a extraordinária catástrofe que a transtornava? E levantou a cabeça, olhando ao seu redor como que à procura da causa para o seu sofrimento. Um raio de sol de Abril cintilava nas porcelanas do armário da sala. A lenha ardia na lareira e abaixo das suas chinelas sentia a brandura da carpete. O dia estava claro, a atmosfera tíbia e ouvia, ao longe, a filha a rir estridentemente (...).
in Madame Bovary,
de Gustave Flaubert



Still de Madame Bovary (1991), de C. Chabrol

Lolita.



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Insinuando que iria passar uma valente seca, Natalie Portman fazia-se munir de um "Lolita" na chegada à apresentação de "Black Swan". NOPE. 



Olympia Le-Tan
New Bag's Collection





 



I want the world to stop.



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.
I
WANT THE

WORLD TO STOP.





(Canção adorável, vídeo insuportável.)

Sustentando a minha tese:



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Graceful Elegance
Karen Elson as Grace Coddington
Photographed by Steven Meisel
Styled by Grace Coddington
Vogue US, August 2008



Pneus não vejo.



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THE MAKING OF
MYTHOLOGY
The 2011 Pirelli Calendar, by Karl Lagerfeld


Com: Julianne Moore, Daria Werbowy, Erian Wasson, Anja Rubik, Lara Stone, Magdalena Frackowiak, Brad Kroenig, Baptiste Giabiconi, Heidi Mount, Elisa Sednoui, Freja Beha, Iris Strubegger, Jack Davies, Abbey Lee Kershaw, Isabeli Fontana, Bianca Balti, Garrett Neff, Jeneil Williams, Natasha Poly, Lakshmi Menon.







 





Abstenham-se as ressentidas.



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Procura-se musa. Abster-se fracas
ressentidas travestis e invejosas.
Salário baixo
noites de amor intenso
e livros como filhos. 

Cristina Peri Rossi



Via O Melhor Amigo: Via Rua das Pretas : Via Neorrabioso

Bem, como eu estava a dizer.



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António Lobo Antunes na mais recente apresentação do mais recente livro.
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O ARQUIVO.

OS VOYEURS.