Que chegámos demasiado tarde ao leito
da vida para qualquer sonho de emancipação
revolucionária, percebemo-lo aos vinte anos;
que justiça é uma palavra em esperanto
e a lei o mero eixo onde gira o privilégio,
percebemo-lo depois, muito a contragosto.
Resta-nos perder a última ilusão: a de que
haja ainda espaço, nesta feira popular
da mediocracia, para uma escrita que não
seja celebração do estúpido, estridente
Carrossel do embuste, da Grande Roda
que nos entontece de riso (em voltinhas
de onde a alma sai torcida e sem emprego),
do Túnel de Horrores Publicitários, da Barraca
de Tiro em que fazemos de patos; espaço,
enfim, para que dois dedos de beleza se
entrelacem, ou dois dedais de inteligência
se toquem num brinde ao farrapo da verdade.
Quando percebermos também isto, amigos,
saberemos que a Gloriosa Era da Literatura
Ocidental chegou ao fim, derretida (como
aliás sugere o seu acrónimo) pelo aquecimento
da emoção global; que não viemos aqui
para tentar ressuscitar um moribundo
(como crêem os mais optimistas), mas sim
para animar um velório. Carpideiras somos,
de violino ao ombro. O funeral está na rua.
Se queremos brilhar ainda um pouco,
é agora ou nunca. Afinemos as cordas,
as lágrimas, em dó maior. Vamos a isto?
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