Viver sempre também cansa.



5 COMENTÁRIO(S)
Viver sempre também cansa.

O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...


José Gomes Ferreira,
in "A Poesia da «Presença»"
Cotovia, 2003

VIA O Café Dos Loucos

5 COMENTÁRIO(S):

Anonymous at: Saturday, 02 April, 2011 said...

um dos meus poemas favoritos !

Uma dança que cansa

ogd pelas fotos do e D

e pelo maier !

fm

Camille at: Sunday, 03 April, 2011 said...

Desculpa, acho que não percebi bem essa última parte.
;)

Anonymous at: Sunday, 03 April, 2011 said...

Queira desculpar-me, também,
não percibi o seu! ;) fm

Camille at: Tuesday, 05 April, 2011 said...

English?

Beatrix Kiddo at: Wednesday, 06 April, 2011 said...

conseguir hibernar é uma meta que eu tenho

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