É NA TERRA NÃO É NA LUA (2011), de GONÇALO TOCHA. trailer | site
A senhora que fazia queijo ensinou-me que os queijos são como os bebés, só que não choram e vi aqui todo o interesse em nutrir um cada vez maior carinho por este género de lacticínio (pelo menos enquanto as propostas de abono familiar não se tornarem decentes).
O senhor da oficina, Corvino por adopção, diz-nos que tem muito muito que fazer, mas que não lhe apetece nada; que um homem na ilha, sem mulher, dá em doido.
Acaso a maioria dos espectadores - tal como eu, até então - nunca haverá assimilado
que os serviços de prostituição, apesar de um bem de valor indelével
para a sociedade, lamentavelmente, ainda não chegam ao Corvo; que
comprar uns momentos de amor, poderá irremediavelmente passar por
ter de comprar também um bilhete para a avioneta e que, para mais, é referido no filme que nos últimos anos as
ovelhas praticamente desapareceram da ilha.
E em época eleitoral, os habitantes, extasiados pelo corrupio que os megafones e cartazes trazem à ilha, garantem que a política é a melhor coisa que pode haver - Nós quase acreditamos.
Algures a meio do filme do Gonçalo Tocha (mais para o fim do que a meio, sejamos precisos e fujamos ao hábito linguístico) um birdie, deleitado observador de aves norte-americano, diz-nos que certa vez viu, na Ilha do Corvo, um pássaro tão raro que vomitou.
Foi nesse momento que achei que seria injustíssimo se não vomitasse também eu, ali, naquela sala de cinema, àquela hora, homenageando com a devida brutalidade - a do pós-opio - uma das coisas mais bonitas que tinha visto nos últimos tempos - aquela projecção, naquela tela, à minha frente, àquela hora.
(não vomitei, guardei tudo)