InÊs Lourenço - #2.



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Deitar-se algumas vezes nos sulcos

do sono da noite anterior,

reconhecendo como felino domestico

o cheiro das nossas mantas. Não

lavar os dentes e sobretudo esquecer

de baixar as persianas. Coleccionar

pontas sucessivas de cigarros. Jornais

de muitos ontens e rimas

de livros lidos só três paginas. Não

endireitar a curva daquele candeeiro,

deixar as gavetas abertas

com colírios, comprimidos e roupas

À vista. Amontoar em cima da cómoda

brincos impares, perfumes sem tampa, pequenos espelhos

quebrados, alfinetes, cartas, rascunhos

e chávenas de chá servido há dias, deixar

calar-se o CD com os lieder de Schumann

afastando os sapatos de muitos caminhos

e a roupa de tantas horas. Roteiro para um paraíso privado de Os SolistasUm Quarto com Cidades ao Fundo,

Quasi Edições, 2000

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