ACERCA DAS VANTAGENS DO PROGRAMA ERASMUS
#2



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(quero que saibas que)

O que mais me intriga nele é, de longe, a forma como, sempre que a boa-educação o dita, me projecta "Bons-Dias" : com o mesmo cansaço de quem lança um "Até Amanhã" ao escritório antes de carregar o interruptor. Será ele eventualmente o homem dos bons-dias mais cansados de que há memória. Há também a visão altamente insectiforme de periférica que é, convivendo com uns olhos de peixe - um peixe veemente afastado de qualquer hipótese de figurar num livro de recordes tamanhos - que olhos pequenos! , não achas?
O que mais me diverte nele é, de longe, a forma como dia-após-dia,
"Senhor, o que mais me diverte em si é a forma como me tenta arrancar respostas que eu"
que eu não estou, de todo, disposta a dar. Quero ainda que saibas que o vou advertir :
"Senhor, gostaria de o advertir que é EXACTAMENTE assim que isto vai continuar" - eu sentada sem responder e "você" sentado à espera que eu responda (e neste caso é exactamente essa a posição certa para esperar).
"Senhor, é o seu desespero que me diverte."

Quanto ao outro, O que mais me assusta nele é, de longe, a forma profundamente simpática como me recebe. Eu penso: bom demais para ser verdade, E fico à espera do dia em que se livre daquele sorriso aberto e rebente num ataque de fúria fulminante por uma quotidianice qualquer, e que a sua figura, por ora humanizada, me traga enfim algum conforto.

Às vezes, quase cedo à tentação de um poema, e, largamente me questiono se não bastará consultar um novo kamasutra das palavras:
Se não bastará,
apenas,
mudar-lhe as orientações, encavalitá-las, desenhar construções irregulares.
Ser vertical.
Juntar-lhe ainda duas pitadas de lua e uma de sol,
nomes mitológicos,
para deixar isto bem vestido e minimamente povoado.

Mas logo me apercebo que essas não são manobras para mim, que de astros não percebo nada, e que o que me deixa mais à vontade na escrita é, de longe, poder deitá-la e vê-la assim mesmo: extensa e relaxada.
Agora, mais grave que tudo, o que mais me irrita em ambos e na própria escrita tentada é, de longe, a forma como os levo para a cama mesmo sabendo que me vão adiando o sono, noite adentro.
4.FEVEREIRO.2009

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