Vou pôr um anúncio obsceno no diário
pedindo carne fresca pouco atlética
e nobres sentimentos de paixão.
Desejo um ser, como dizer, humano
Que por acaso me descubra a boca
e tenha como eu fendidos cascos,
bífida língua azul e insolentes
maneiras de cantar dentro de água.
Vou querer que me ame e me abandone
com igual e serena concisão
e faça do encontro relatório
ou poema que conste do sumário
nas escolas ali além das pontes.
E espero ao telefone que me digam
se sou feliz, real, ou simplesmente
uma espuma de cinza em muitas mãos.
António Franco Alexandre
Quatro Caprichos
Assírio & Alvim, 1999
É PELO EXEMPLO QUE LÁ VAMOS
2 days ago
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