A discussão que se tem centrado na mais recente vaga de “roque (em) português”, aspas um pouco marotas, tem padecido do efeito bipolar que tende a afastar para os antípodas as apreciações entre os que sentem repulsa e os que rezam o terço com fervor. O espectro está sempre um pouco mais preenchido e equi-espaçado que isso, ou seja, nem só de bom (ou mau, depende do partido tomado) se faz a festa, como vem a lume o mediano e o resto. Surgem estas palavras a propósito das linhas que se seguem e não são nem desculpa nem justificação, apenas uma explicação tosca de que aqui não se tiram fotografias homogéneas a um conjunto tão diferenciável. Mas também não se atenta ao luso-porreirismo para aplaudir o que deve ser desancado, como o Meio Disco d’Os Quais. É quase certo que a capacidade de pegar no quotidiano pouco idiossincrásico e nas boçalidades do dia-a-dia com o fim de criar massas de palavras dignas de notas cantadas, parece estar reservada quase só a gente lida. Jacinto Lucas Pires, o escritor, tem o estatuto ideal para tomar esse papel de quem olha o mundo e lhe dá um interesse dobrado, dividindo-o. Fala-se logo de letras, porque é o que primeiro se estranha, pelas razões óbvias da atenção que se lhes dá. De “tiques de sofisticação intelectual” sobra-lhes o pretensiosismo e pouco mais, do discorrer “coisas tão ingénuas quanto familiares” nada mais que isso. O pintor Tomás Cunha Ferreira é o outro co-criador destas seis canções no álbum de desabrochamento musical público dos dois artistas. Depois das letras, estranha-se a voz. Jacinto Lucas Pires não sabe cantar, o que não seria grave se não fosse incomodativo. Esse constrangimento percorre todo o disco, e mesmo as canções meio conseguidas são-no quase sempre com a abstracção que a filtragem selectiva do cérebro permite, confrontado o que está a ser cantado com o que convive à volta. Há seis temas: três maus, um meio mau e outros dois meio bons. No lote 1: “Um Bife No Chiado”, “A Rapariga da Caixa” e “Lero-Lero”; no lote 2: “Recado”; e no lote 3: “Mondriânica” e “Caído no Ringue”. São todos pop aproximadamente cantarolável, uns menos que outros, mas naqueles três primeiros é difícil tirar suco quer da estética quer da palavra, como as referências primárias e secundárias aos Pontos Negros também não valem muito. Uma canção que começa com “Não, nada disso / isso não é nada / o que ele disse é uma coisa de nada /não tem mesmo nada a ver” até podia soar bem, dá-se a dúvida, mas aqui definitivamente não. É quando se aproximam da música brasileira que conseguem as melodias mais interessantes e nisso é preciso tirar meio chapéu a “Mondriânica” e “Recado”, com valor potencial, mas onde em bruto resta apenas a força da mediocridade. No fim há “Caído no Ringue”, spoken word e saxofone free, de todos o mais valioso dos temas. Mas não há brilho que justifique o todo e a sensação que se tem é a de que Meio Disco não passa do canto de um cisne que acabou de nascer. Tiago Gonçalves, @bodyspace.net, 24/02/2009
MEUS AMORES, EU NÃO CASAVA COM UM CRÍTICO.
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3 COMENTÁRIO(S):
ora viva!... eu não vou falar da implicância. só vinha dizer que não gostei do que li. manda tudo por terra e o Bife até é tenrinho, por amor de Deus. pfff!
Se fosse em Ingles ja gostavam... Porque é mais cool e secalhar nem entendiam o que era dito... Venha a outra metade do disco!
Às vezes, há gajos, que a única coisa lhes sei dizer é um assim 'Chupa-me a pila'.
Venha a outra metade não! Venha um inteiríssimo, mastigável, trincável, cosmestível e, se puder ser, com uma faixa chamada 'Bife a Cavalo' para contentar ali o Gabriel, que é gajo de tascas!
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