

Ali Aksu: Pensionista. Turco. Viúvo. A residir na Alemanha. Foi às putas. Escolhe uma porque a quer em casa, há-de pagar-lhe o mesmo que o bordel. Yeter: 'Senhora de vida difícil' disse ela. Viúva turca. 'A minha filha? 27 anos. Pensa que trabalho numa loja de sapatos', disse ela.
Ali tem um filho. Nejat: Apelido partilhado com o pai. Turco que dá aulas de alemão a universitários na Alemanha. Ali bebe, Ali enfarta, Ali vive, Ali volta, Ali fuma, Ali bebe, Ali bate, Ali mata. YETER TOD. A Turkish Airlines trata do transporte do corpo. Aliás, dos corpos, se bem que um vivo e um morto. Posso adiantar que os turcos têm cemitérios parecidos ao nossos. Istambul: 20 milhões de habitantes, "as ruas e os arquivos cheios de crianças curdas. Analfabetas que recorrem à violência" e um corpo vivo que, nas paredes da cidade por onde há-de ficar sem ainda no entanto o saber, espalha cartazes vivazes, amarelos, vistosos, com a cara de um corpo agora morto para lhe encontrar a ex-filha. Yaeten (pele de lua): membro de um grupo da resistência porque "na Turquia só pessoas com dinheiro conseguem educação". Foge para a Alemanha a procurar a ex-mãe, de quem ainda não conhece o prefixo de que vos informo. Não tem casa mas fome tem. Não tem dinheiro, mas tem Charlotte: estudante, alemã, loura como compete, comparsa de Yaeten. Complicações. Yaeten acaba presa e é deportada para a Turquia. Charlotte usa a Turkish Airlines para a ajudar e é aí que acaba. LOTTE TOD : "Isto é a Turquia": "as ruas e os arquivos cheios de crianças curdas. Analfabetas que recorrem à violência". Depois disto a mãe de Charlotte chega a Istambul para dar protagonismo a uma das mais bem conseguidas cenas do filme: um quarto em tons ocre e escarlate, cortinas e uma janela com vista sobre a cidade e uma noite escura; e há cortes com sucessivas transições em fade que lhe vão mudando os posicionamentos dentro do quarto mas não as emoções dentro de tórax - "É a pessoa mais triste da sala".
Istambul, pra lá das cúpulas de Santa Sofia: (como) nunca te tinha visto.
Há a repetição de cenas que reaproveitam o que antes descartaram (Memento?).
Todos se cruzam. Ninguém se cruza. Todos se cruzam sem saber (Alice?).
Istambul: brindamos à morte. Há música. Gatos. Cores e estendais. Livros. Mar.
E há uma cena final, que tudo ou nada diz.

E é assim que se me abre o apetite para Head-On (2004), do mesmo realizador.
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