Elefantes na água optimistas à solta optimistas à solta elefantes na árvore elefantes na árvore optimistas na esquadra optimistas na esquadra elefantes no ar elefantes no ar optimistas em casa optimistas em casa elefantes na esposa elefantes na esposa optimistas no fumo optimistas no fumo elefantes na ode elefantes na ode optimistas na raiva optimistas na raiva elefantes no parque elefantes no parque optimistas na filha optimistas na filha elefantes zangados elefantes zangados optimistas na água optimistas na água elefantes na árvore Era uma vez um coelhinho que nasceu numa couve. Como os pais do coelhinho nunca mais aparecessem a couve passou a cuidar dele como se do seu próprio filho se tratasse.Com ervinhas tenras que cresciam ao seu redor a couve foi criando o coelhinho dentro do seu seio até que este passou a procurar a sua própria alimentação.O coelhinho, que tinha um coração muito bondoso, retribuindo o afecto que a couve lhe dedicava considerava-a como sua verdadeira mãe.A mãe couve e o seu filhinho adoptivo foram vivendo muito felizes até que um dia uma praga de gafanhotos se abateu sobre aquelas terras.O coelhinho ao ver que aqueles insectos vorazes devoravam tudo o que era verde cobriu com o seu próprio corpo o corpo da mãe couve e assim conseguiu que os gafanhotos pouco dano lhe fizessem.Quando aqueles insectos daninhos levantaram voo os campos em volta passaram a ser um imenso deserto de areias e pedra.O pobre coelhinho, que sempre tinha vivido nas proximidades da sua mãe couve, teve de deslocar-se para muitos quilómetros de distância a fim de procurar comida.Mas já nada havia que se pudesse mastigar naquelas terras.Passaram muitos dias e o pobre coelhinho estava cada vez mais magro mais magro e faminto.Então a mãe couve disse-lhe assim: “Ouve meu filho: é a lei da vida que os velhos têm de dar o lugar aos novos, por isso só vejo uma solução: assim como tu viveste durante algum tempo no meu seio, passarei a ser eu agora a viver dentro do teu. Compreendes, meu filho, o que eu quero dizer?”O pobre coelhinho compreendeu e, embora com grande tristeza na alma não teve outro remédio, comeu a mãe. Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear. Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força. Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista. Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se? (...) No corre-que-corre, o convencido da vida não é um vaidoso à toa. Ele é o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca é gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes. É tão capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitá-la. Depende do que, na circunstância, ele julgar que lhe será mais útil. Para quem o sabe observar, para quem tem a pachorra de lhe seguir a trajectória, o convencido da vida farta-se de cometer «gaffes». Não importa: o caminho é em frente e para cima. A pior das «gaffes», além daquelas, apenas formais, que decorrem da sua ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe, e que o inculcam como um arrivista, um «parvenu», a pior das «gaffes» é o convencido da vida julgar-se mais hábil manobrador do que qualquer outro. Daí que não seja tão raro como isso ver um convencido da vida fazer plof e descer, liquidado, para as profundas. Se tiver raça, pôr-se-á, imediatamente, a «refaire surface». Cá chegado, ei-lo a retomar, metamorfoseado ou não, o seu propósito de se convencer da vida - da sua, claro - para de novo ser, com toda a plenitude, o convencido da vida que, afinal... sempre foi.É um estilete de luz
a imensidade de que és feita
e contorna um azul-sonho-neve
igual aos cabelos que descobri a saírem da tua boca
- dos teus olhos de imaginação
- dos teus lábios curvos de aurora.
Saímos
enquanto as pessoas olhavam admiradas o Arco do Triunfo
deixando escorrer dos bolsos fitas e serpentinas
para tudo se passar como no pássaro
para deixar objectivamente escrito
nas margens do rio
do Mar
- o continente submerso
- o navio de todos os amantes
por onde rola a carruagem em que viajamos
pintada de Liberdade e de Poesia
contigo a dormir sobre o meu peito.
POR ISSO EU SENTI SER FÁCIL O SUICÍDIO
FÁCIL E POSSÍVEL.
Fixou-se no muro da tua residência
sobre a porta que se abre ao visitante
um símbolo mágico e de cabala
- a oportunidade do meu regresso
- a história maravilhosa que te direi na viagem.
Procurei
nas folhas espalhadas pelo nosso leito
a recordação do que há-de vir
- apenas no esparso
- no diverso
- no acto simultâneo de defesa
- no viajar de aeróstato incógnito de distância
- na noite mágica
NA PRIMEIRA GRANDE NOITE MÁGICA QUE NÓS
TIVEMOS.
Abriu-se a janela que caminhava sozinha
e saiu um sonho simples de criança:
O METEORO DA TRANSFORMAÇÃO
pousado a um canto o meu Jogo de Cabala
(um montinho de quadrados,
de círculos, de triângulos,
dispostos geometricamente
sobre um tabuleiro grande)
o meu Tratado de Magia Humana
(um caminho de ogivas, um
relógio a dar horas sobre
um túmulo em pé, os postes
magnéticos, os cordões da angústia)
FALO - no Laboratório Mágico ao dar-se a aparição espon-
tânea de Lautréamont e Freud que traziam sobre as
sobrancelhas um corte fino a atravessá-Ias lado a
lado: -
Ao aparecer a mulher escandalosamente
vestida de vermelho
ele dirige-se para a jovem
e os outros passeiam sobre as rochas
onde fica oculto o corpo do homem que chega continuamente
MUDO APONTA O HORIZONTE.
de cima para baixo:
'passagem dos elefantes', de M. CESARINY V.
'o coelhinho que nasceu numa couve', de PEDRO OOM
'os convencidos da vida', de ALEXANDRE O'NEILL
as cinco letras em vidro, de ANTÓNIO MARIA LISBOA
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