BICHOS INSTANTÂNEOS.



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És um bicho tão pobre como eu, um bicho com uma expressão enigmática, e por isso és um bicho igual a mim, sem que nenhum de nós tenha um terceiro para estabelecer uma relação de semelhança. Dizes-me: não posso olhar para trás e ver-te à minha frente. Somos estrangeiros numa penúria extrema como um mendigo que espera por uma terrina de sopa na porta de uma casa abandonada. Um bicho inclui os homens no mesmo círculo de convivência com os astros e as pedras. Ávido de entender a anunciação de uma matéria que não opere a destruição atómica, a olhar cada um desesperadamente para fora de si, um bicho que está fora do tempo vê o intemporal e também isso o faz infeliz. Um bicho está sempre a ser outro, tu interpões-te entre metade dos meus eus e deixas a outra metade de fora e depois queres fazer irromper-te do teu embaraço de bicho e és um relâmpago furioso, tremes e desenhas, sim, é verdade que te leio como a minha verdade secreta, mas nunca te posso dizer eu. O delírio de um bicho é incompleto e passageiro e por isso o que vejo de ti é um pressentimento do que tu és.
Isabel Aguiar Barcelos
Bichos Instantâneos
Poemas de António Ramos Rosa e Isabel Aguiar Barcelos
Edições Quasi

1 COMENTÁRIO(S):

A. at: Tuesday, 17 March, 2009 said...

...ma ra vi lho so bicho este!



bravo

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