TESES.



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As pesquisas Google que trazem visitantes até este meu canto preocupam-me cada vez mais. Desde "forno crematório de cascais", até "como usar cotonete" ou "cotonete descascada", todas têm o seu quê de intrigante e convergem precisamente aqui. Não sei como conseguem chegar até cá com pesquisas destas. Se for eu a refazê-las não é aqui que venho parar. Vou parar a sítios como este, onde se faz a apologia do uso das cotonetes poder ser considerado uma espécie de masturbação. Cá eu, quando uso cotonetes, nos ouvidos, sucede que tusso como se não houvesse amanhã onde tossir. É o que eu faço. E como fico com a garganta arranhada, sucede que não acho particularmente agradável.

"Eu, é claro, também sou apaixonado por cotonetes. Em outubro, relatei que cheguei a ter dor de ouvido de tanta “catucação”. O problema é que meu ouvido tem muita cera e coça muito! Para produzir as fotos desta postagem, eu fiquei duas semanas sem usar cotonete. Veja o quanto de cera se acumulou, na primeira foto."

MICHELLE BRITO.



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Uma das coisas mais estranhas que ouvi nos últimos tempos foram, sem dúvida, os gritos de jogo de Michelle Brito - a jovem revelação do ténis nacional - que são uma mistura de ave de rapina, com fogo de artício em ascenção, com caniche a quem é pisado o rabito e até com um bocadinho de Animal Collective. Mas há quem só pense em comparar tamanha berraria à de Sharapova.

SEM TÍTULO.



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Do que a gente gosta é de ler um bom poema, ou uma boa prosa,
ou outra porcaria qualquer, e sentir o autor a espiar-nos de um canto.
E procurá-lo debaixo da almofada, procurá-lo nos ângulos do tecto, olhar com desconfiança a porta entreaberta do guarda-vestidos - onde é que estás cabrão? - e querê-lo ao pé de nós.
E se o achássemos, agarrar-lhe os colarinhos e perguntar-lhe estas coisas:
"Como é que sabes?";
"P'ra quem trabalhas?";
e "O que fazes hoje?"
E não o encontrando, exaustarmo-nos, e adormecermos.
E ele, vê-nos adormecer, e dormir, e sonhar.
(E nós a sonhar uma realidade - que amamos tanto a Álvaro de Campos 
e um desejo - que não houvesse Pessoa p'ra lá dele)

GOOGLE ADS.



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As publicidades na net estão cada vez melhores. Como nesta em que Cesariny é leiloado:
 
Compra e Venda. 100% Grátis.
Faça Excelentes Negócios Online!

UMA SUSPEITA.



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Não há bigode sexy como o que foi o do Chico Buarque.

ACERCA DAS VANTAGENS DO PROGRAMA ERASMUS
#4



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Filha-da-putice, meu caro, digo-lhe eu o que é. É que esteja para aqui sentada à espera que uma inspiração se decida a voltar, que desça, ou que suba, que dizem que vai, que vem (que é como pedaços de madeira da austrália, ridícula metáfora) e desde a última vez que a vi até agora a não tenha voltado a presenciar. Atormenta-me isto. Mas pouco. 

***

Filha-da-putice é, meu caro, digo-lhe eu, assim como tenho proclamado e repito: 
A geometria descritiva é a pior gangrena à face da terra (só não sei se a seguir ao Conformismo se a seguir a outra porcaria qualquer que já decido e talvez volte atrás para escrever - já decido) e não tivesse já morrido o traste que a inventou ou quem o matava era eu. É, ao mesmo tempo, génio e chaga maior na História - é uma genialidade com um je ne sais quoi de dantesco! (anda uma mãe a criar um filho para isto). 
" Senhor Monge, adorava sinceramente que tivesse passado maior tempo da sua vida a coçar os tomates que a pensar. Pouparia tão boa gente a tanto futuro dissabor inventado. Espero sinceramente que ao longo da sua vida muita dama lhe tenha projectado os mais belos tabefes na cara (segundo qualquer sistema de projecção - tanto me faz, qualquer um seria bom) e que, não tendo havido possibilidade para tal, lhe tenham ao menos feito algumas tangentes; que lhe tenham deixado sombras próprias nos olhos e lhe tenham seccionado sucessivas cartas de amor. À tesourada! Que a sua mãe o tenha mas é mandado ser um chef de cozinha ou revolucionário, não interessa, qualquer coisa que o deixasse afastado desta vida, qualquer coisa menos isto, e, por fim, que tenha ido a enterrar num prisma quandrangular axonometricamente belo e com rigor nas proporções e, sobretudo, desejo que hermeticamente lacrado, não vá a gente ter de correr o risco de cá voltar e inventar mais dois ou três problemas com os quais o tempo se há-de encarregar de proceder à multiplicação de pães que não alimentam mas matam (2 ou 3 novos problemas multiplicados pelas cabeças de 10 ou 20 indivíduos, depois__ 2 ou 3 novos problemas multiplicados pelas cabeças de 30 ou 40 indivíduos, assim sucessivamente, faça lá as contas). Resta-me assim esperançar que de então para cá esteja a arder no inferno e que assim continue até à combustão do último trago de genialidade. Mas atenção: nada de martirizar Belzebu com estórias de intersecções e planos, não vá ele querer emigrar (é nestas alturas que adiro ao PNR). 
BASTA PUM BASTA!, que se pegue neste manifesto vindouro e se rasurem todos os 'DANTAS' e que se escreva por cima a traçado forte e feio, o teu nome, 'MONGE'!
O DANTAS USA CEROULAS DE MALHA! 
E O DANTAS TEVE CLÁQUE!
E O DANTAS TEVE PALMAS!
E O DANTAS AGRADECEU! 
O DANTAS EM GÉNIO NUNCA CHEGA A PÓLVORA SECCA E EM TALENTO É PIM-PAM-PUM! (pólvora é contigo, disseram-me numa tasca possivelmente francesa ->__ a wikipedia)
MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!
E digo-lhe mais: você nem parece francês. E se fosse hoje, e você respirasse e tivesse ouvidos e me quisesse ouvir, dizia-lhe assim: Vá mas é trabalhar."
 
*** 
Ámen. Por hoje está feita a oração da noite. 
[ Faz a tua como a mãe nos ensinou. "Tu nem rezas. De certeza que o teu irmão reza mais vezes que tu" - disse-me ela no outro dia como quem diz "Só não és mais saudável porque não queres" e "Bebe chá!". Faz a tua, como a mãe nos ensinou, só que desta vez, tenhas ao menos algo a lamentar, que 5 tenros anos de idade não nos permitiam ter.]

FRAGMENTO DE LARANJA.



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O GOMO está de volta com álbum novo.
Já há vídeo para
Final Stroke:


... e eu já me tinha esquecido que este vídeo é o máximo*:


* GOMO - Feelin' Alive

AINDA SOBRE A TAL PROFESSORA DE ESPINHO.



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O que acho sinceramente mais grave em toda esta história da professora de Espinho é realmente aquela parte em que ela diz "...são todos amiguíssimos do meu filho" quando toda a gente sabe que "amicíssimos" é um termo muito mais correcto de se usar, fartaram-se as minhas professoras de português de advertir. Isto vindo da "Senhora Doutora" que andou "doze anos na escola, quatro na faculdade, dois nos estágios, dois na pós-graduação e um numa especialização!". E o raio que a parta.

SONHEI QUE.



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Sonhei que um indivíduo de boné, fazendo transportar-se numa viatura medonhamente alterada (amarelo pálido aliado a verde pálido, a arrojar pelo chão, vidros escuros, não sei se um Saxo se um Corsa antigo, sei só que o total cúmulo do mau gosto) colidiu propositadamente com a filial de seguros do meu vizinho, entrando directamente pela vitrine frontal do estabelecimento. Era um acto revolto. Achava que o seguro estava muito alto. O meu vizinho (o mais pacífico dos terráqueos, um santo, nunca olhei para ele senão em câmara lenta, uma languidez nos olhos que a gente se questiona para onde vai? ao que vai? onde espera chegar? assim em câmara lenta. Chama-se Adriano e na realidade não faz seguros, é serralheiro), o meu vizinho embora dentro do estabelecimento e confortavelmente sentado à secretária, ileso permaneceu após o sucedido; levanta-se munido da maior das fúrias e com um descomunal estilhaço de vidro (um triângulo perfeito) sai à rua e desata a abrir gargantas pela multidão junta fora.
Eu preferi recolher-me naquela florista que há ali assim na esquina, com umas escadinhas a subir e um WC com janela para a rua do caos - é, neste estabelecimento inexistente, ponto de espionagem de predilecção.
Entre flores não estava florista nenhuma. Assim como no talho não havia talhante, nem na mercearia merceeiro, nem no jardim o Humberto, cego de décadas.
 Em terra de portugueses, há na gente um desejo latente de sofrimento, alheio ou não. Em terra de portugueses, ao mínimo indício de tragédia a gente rejubila, passa notícia, corre a agrupar-se para ver passar a procissão das desgraças. Até ao dia em que o santo decida exterminar a assistência.

WE MISS YOU CAFUNÉ.



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Cafuné é um carinho feito mexendo nos cabelos com as pontas dos dedos. Maria Chagas afirma: “antigamente o home que a gente queria, ficava cheio de dengo com um cafuné bem feito. Hoje não tenho em quem fazê e ne mim, chamo uma negrinha pra fazê. Me sento na rede e quando menos espero já tirei uma soneca. Cafuné dá um soono. O meu netinho quando tá mucho chorão eu faço um cafunézinho e ele dorme solto. Mas gente grande é que gosta de cafuné...” :)

BY THE WAY...



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NORTON 
Pump Up The Jam

NO FOTOGRAMA.



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"Arena", de João Salaviza. No Fotograma. (não posso com esta apresentadora)

:)



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Linda Martini ao vivo no Nokia On Live @ Santiago Alquimista
(em caso de dificuldade no carregamento do vídeo seguir este link).

É MEU.



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Este blogue agonia-me.

Ú.



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NEM EU ESPERAVA OUTRA COISA.



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CANNES É NOSSO.



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"Arena", curta-metragem de João Salaviza, acabou de conquistar aquilo que nunca um filme português conseguiu: uma Palma de Ouro. É a maior distinção de sempre do cinema português nesta categoria. EXPRESSO
 


PALMARÉS DO 62º FESTIVAL DE CANNES




LONGAS METRAGENS

PALMA DE OURO
"The White Ribbon", de Michael Haneke

GRANDE PRÉMIO DO JÚRI
"Un Prophète", de Jacques Audiard

PRÉMIO ESPECIAL À CARREIRA E SUA EXCEPCIONAL CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA DO CINEMA
Alain Resnais

PRÉMIO DE REALIZAÇÃO
"Kinatay", de Brillante Mendoza

PRÉMIO DO JÚRI (ex-aequo)
"Fish Tank", de Andrea Arnold e "Thirst", de Park Chan-wook

MELHOR ACTRIZ
Charlotte Gainsbourg, por "Antichrist", de Lars von Trier

MELHOR ACTOR
Christoph Waltz, por "Inglourious Basterds", de Quentin Tarantino

MELHOR ARGUMENTO
Mei Feng, por "Spring Fever", de Lou Ye



CURTAS METRAGENS

PALMA DE OURO "Arena", de João Salaviza

MENÇÃO ESPECIAL "The Six Dollar Fifty Man", de Mark Albiston e Louis Sutherland






UN CERTAIN REGARD

PRÉMIO "UN CERTAIN REGARD"
"Dogtooth", de Yorgos Lanthimos

PRÉMIO DO JÚRI
"Police, Adjective", de Corneliu Porumboiu





CAMÉRA D'OR (melhor primeira obra a concurso de todas as secções de Cannes)
"Samson and Delilah", de Warwick Thornton

GLORIOUS IMAGE MIX COOKED WITH CHAOS & FASCINATION #2



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Também já tenho idade para querer ter uma churrasqueira nas traseiras - há crises destas. Chamei uns trolhas, gente boa, muito boa - tudo amigos imaginários - e fiz um ANEXO, extensão programada da casa:
 
A Grande Enxurrada:
Recolecção Caótica de Vislumbramentos Pictóricos:

GLORIOUS IMAGE MIXES COOKED WITH CHAOS & FASCINATION 

Tem o primeiro nome que me veio à cabeça o que significa que está sujeito a câmbio iminente, com aviso posterior. A contar a partir de agora, em: 

DUCK MY SICK

SEM TÍTULO.



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HAIRHATS 

TRANSACÇÃO.



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aconteceu-me uma coisa que não quero contar
disse ele, mas em compensação vou-te contar
uma coisa que não me aconteceu. mas disse eu
porque é que não queres contar a coisa que
te aconteceu. se eu contasse a coisa que me
aconteceu tu não acreditavas disse ele. e tu então contas o que não te aconteceu para eu
acreditar que te aconteceu disse eu. eu não
conto para tu acreditares mas para eu acreditar disse ele. então não acreditas no que te aconteceu disse eu. como tu não acreditas
disse ele eu começo a duvidar. e se eu acreditar na coisa que não te aconteceu disse eu
tu acreditas que te aconteceu. acredito que
tu acreditas que aconteceu disse ele. e por que é que que tu precisas que eu acredite para tu acreditares disse eu. eu não preciso que tu acredites para eu acreditar disse ele
eu só preciso que tu acredites. que eu acredite em quê disse eu. no que eu contar disse
ele. mas o que tu vais contar não aconteceu
disse eu. como é que tu sabes disse ele. porque tu disseste disse eu. ah ah então tu acreditas no que eu digo disse ele triunfante. 
Alberto Pimenta
 Obra Quase Incompleta
 Fenda, 1990

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GLORIOUS IMAGE MIX COOKED WITH CHAOS & FASCINATION #1



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TODAY I'M GONNA MARRY JASON.



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Marry Me (2008),
de Michelle Lehman.

OOH-LA-LA



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That's right: 
Cat Power will tour with Juliette Lewis 
this summer.

Ce petit coup au coeur quand la lumière s'éteint et que le film commence.



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O exercício proposto ao espectador em Chacun Son Cinema parece passar pela tentativa de desvendar ao longo da visualização de cada retalho desta manta quem será o seu autor, cujo nome na maior parte das vezes irá surgir apenas no final. Nos dois primeiros retalhos mais ao meu agrado parece curiosamente existir um cerne inspiracional comum - que é Godard: deslumbrou-me com inusitismo a curta de Gonzalez Inãrritu (que não reconheci a não ser ter estranhado a semelhança dos olhos da protagonista com os olhos de Gael Garcia Bernal, habitué dos filmes de Iñarritu, algo que tomei até certa altura como mera coincidência) - neste há Le Mepris; e deslumbrou-me igualmente a forma engenhosa como Atom Egoyan adiciona ou mescla a Vivre Sa Vie novas ficções suas, que depois inteligentemente monta como um puzzle. Gus Van Sant parece continuar a não querer afastar-se da adolescência ao passo que Jane Campion nos dá a conhecer uma bizarra mulher-insecto.
Com Occupations, Lars Von Trier cria o momento alto e absolutamente imperdível do filme e enche-me os olhos com uma violência que dada a situação chego a achar deliciosa (aos fala-barato em salas de cinema é ou não é espetar-lhe com uma martelo na cabeça?) e que chego a pensar vir de Cronenberg. Mas não.
Cronenberg chegará mais adiante com aquele que considero o segundo momento mais alto, interpretrando ele próprio o papel d'O Último Judeu Do Mundo Na Última Sala de Cinema Do Mundo, revelando o seu ponto de vista em relação ao futuro do cinema - a total descrença. Mais que isso, um desespero. Do lado dos positivo-irónicos surgem Bille Auguste com um divertido Last Dating Show, Walter Salles com uma paródia musical em torno do próprio Festival de Cannes (cujo 60º aniversário motiva a existência de Chacun Son Cinema) e por fim Ken Loach satiriza com um pai e respectivo filho que, indecisos acerca do filme que querem ver (se uma comédia ou um com muita acção), optam afinal pelo jogo de futebol, no estádio já ali ao lado.
E Lynch? Lynch fez realmente uma curta que acabou por ficar fora do naipe mas que o youtube gentilmente hospedou. Chama-se Absurda. A esta reconhecer-lhe-ia certeira e rapidamente a paternalidade - não há como enganar. 

ÀS 19H, NA ANTENA 3.



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Hoje, na mítica Prova Oral do famigerado Fernando Alvim, uma inédita e exclusiva entrevista ao icónico Senhor João Que Diz Adeus no Saldanha.

POR FALAR NELES.



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* Gonçalo Waddington num corredor dos estúdios, possuído pelo espírito de António Variações.


*Apanhados RTP2


* Cristiano Ronaldo Solidário

OS ÓSCARES PATROCINADOS PELA REVISTA SOCIALIGHT



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Nunca me tinha imaginado a dizer isto, mas a cerimónia de ontem dos Globos de Ouro foi bem bonita. O Nuno Lopes é mesmo mesmo mesmo do género espectacular e ainda nem lhe actualizaram a ficha no IMDB (talvez porque ofereceu o globo ao António Feio?). Os nomeados na categoria de melhor actor de cinema: Gonçalo Waddington, Ivo Canelas, Filipe Duarte e evidentemente Nuno Lopes - venha o diabo e escolha, que a mim e especialmente neste caso se me afigura um caso bicudíssimo. Manoel de Oliveira discursou mas ninguém parece ter-se interessado muito com isso pelo mundo do youtube, onde tentei desesperadamente ver repetido o discurso e ouvir outra vez que "a gente quer é trabalhar" mas, mui grande infortúnio, só encontrei excertos onde entre a Luciana Abreu ou outras abanadoras de anca - tudo gente abaixo dos 80. 
Na realidade, quando se anunciou que a próxima actuação musical seria de Paul Pots, assim dito e ouvido rapidamente, esperei ver em palco - se bem que um pouco fora de época - nada mais nada menos que a Popota. Ela realmente não apareceu e assim, o meu pai vendo a actuação teceu o seguinte comentário "Parece um porquinho".
Se quiserem ler um belo texto subordinado ao tema visitem esta casa aqui, que, segundo a opinião de dedicados entendidos, será o melhor blogue português. A propósito do patrocinador nº1 deste evento, lembrei-me que se disse um dia assim "Quem vê CARAS não vê corações". Pois parece-me evidente que se devia usar este slogan no próximo anúncio da revista e quiçá, não com necessidade de muita sorte ou cegueira, ninguém repararia que não era esta a frase promocional politicamente mais correcta, não obstante a revista continuar a sair que nem pastéis de nata. Who Cares? E a Bárbara vestida de Óscar?

ISTO É MESMO MUITO BOM!



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UM AL BERTO POR DIA NEM SABE AS VERDADES QUE LHE DIZIA - #6



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INCÊNDIO

se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha — não te assustes
 
são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te
 
diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo — diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas — com eles no chão
 

REVISITANDO O CINECARTAZ DO PÚBLICO.



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3 Belas Crónicas (que já não são de hoje).
 
1/5/2009
Os vampiros são nossos amigos?
No cinema, a transgressão do vampiro foi dar a uma simples "aceitação da diferença". Será isto o futuro do filme de vampiros?
A saison 2008/2009 foi cruel para os apreciadores de uma boa mordidela no pescoço. Alan Ball, o criador de "Beleza Americana" e de "Sete Palmos de Terra", transformou os romances de Charlaine Harris sobre vampiros que "saem do armário" e revelam a sua existência quotidiana na série da HBO "Sangue Fresco" (em Portugal no canal MOV). O cineasta sueco Tomas Alfredson criou uma sensação global com o seu filme de vampiros "Deixa-me Entrar" (estreia em Portugal em Maio), adaptação do romance de John Ajvide Lindquist sobre um miúdo solitário e maltratado que se trava de amizade com a vizinha adolescente que é uma vampira. E a adaptação cinematográfica do primeiro dos quatro romances de Stephenie Meyer sobre a paixão transcendente entre uma adolescente e o vampiro que se recusa a mordê-la por a amar demais, "Crepúsculo", foi um enorme êxito comercial em todo o mundo.
Desde que Bram Stoker fixou a imagem do vampiro no século XIX com o seu "Drácula", o morto-vivo que se alimenta de sangue humano tornou-se numa figura recorrente do cinema de terror, funcionando simultaneamente como metáfora da luxúria e do sexo, da atracção do abismo, do prazer do proibido, e como retrato de um Don Juan vilão e misógino. O vampiro pôde desde sempre ser lido como sedutor canalha que desvia as donzelas castas do bom caminho, interessado apenas no prazer efémero da consumação, com a mordidela luxuriante e a partilha do sangue como metáfora da penetração sexual.
Mas, com o tempo, os vampiros foram ganhando uma complexidade que transcendia a simples redução ao estereótipo da criatura sobrenatural sedenta. As "Crónicas do Vampiro" de Anne Rice, a adaptação de "Drácula" por Coppola ou os "Viciosos" de Abel Ferrara transformaram o vampiro de vilão lascivo em criatura complexa, prisioneira de um limbo entre o humano, o animal e o sobrenatural, capaz de emoções e remorsos, e abriram as portas a uma componente existencialista e hiper-romântica. Sem negar a metáfora sexual (os livros de Rice incorporavam inclusive elementos homoeróticos), mas tornando-a em parte integrante de uma mitologia mais reconhecivelmente humana - o Drácula de Coppola é tanto carrasco como vítima da sua paixão transcendente. Os vampiros passavam de "papões" a "marginais", no sentido de gente que vive "à margem" da sociedade.
O que, então, tanto "Crepúsculo" como "Sangue Fresco" fazem é dar o passo seguinte na mitologia do vampiro, transformando-os de "marginais" em "minoria" que apenas quer viver em paz integrada na sociedade: no mundo de Charlaine Harris e Alan Ball, os vampiros revelaram a sua existência, alimentam-se de plasma sintético vendido ao balcão e começam a pugnar pela sua aceitação na sociedade normal; o vampiro Edward de Stephenie Meyer pertence a uma família "vegetariana" que recusa o sangue humano e coexiste pacatamente. As mordidelas são agora limitadas aos "vampiros maus" que não controlam o animal que há em si, a ambiguidade existencialista é dividida entre os "bons vampiros" que não hesitam em assumir um papel de paladinos do Bem e os "maus vampiros" que continuam a morder gente - como se a "espécie" tivesse evoluído naturalmente para um patamar superior, capaz de desenvolver uma inteligência e uma sociedade (vide a mitologia da série "Underworld" ou o modo como essa evolução se prolonga para mitologias paralelas como os zombies de George Romero). Mas essa evolução retira-lhes também parte da sua carga transgressora, reduzindo a estranheza do vampiro a uma simples "aceitação da diferença" que torna visível e corpóreo a coexistência em cada um de nós da luz e da escuridão, do bem e do mal, do humano e do animal. Será isto o futuro do filme de vampiros?
Jorge Mourinha (PÚBLICO)






15/5/2009
Os novos cinéfilos
Antes do vídeo, do DVD, dos canais televisivos pay-per-view e da Internet, os cinéfilos dependiam do que as salas exibiam ou do que a televisão ia oferecendo. Hoje, o cinéfilo transformou-se no seu próprio programador. Vê Nouvelle Vague e filmes série B, compra DVD e pirateia na Internet e ainda vai à Cinemateca. Quem é o novo cinéfilo? E cinefilia ainda quer dizer alguma coisa? "Cada um o Seu Cinema", um filme que ontem estreou, e "Dicionário de Cinema para Snobs", um livro que acaba de ser editado em Portugal, deixam pistas.
João Félix nasceu em 1943 e "já tinha a barriguinha cheia de peplums como 'Quo Vadis'", vistos em salas de cinema, quando o primeiro televisor chegou a Ílhavo, perto de Aveiro, de onde é natural. David Teles Pereira tem 23 anos, passou a infância em Elvas e descobriu o cinema do outro lado da fronteira, com os filmes de terror de série B que comprava nos video-clubes espanhóis.
Ambos são cinéfilos compulsivos, mas não parecem ser muitos os pontos de contacto entre a cinefilia do engenheiro reformado e a do jovem advogado e co-director da revista de poesia "Criatura". No prefácio ao "Dicionário de Cinema para Snobs", dos críticos americanos David Kamp e Lawrence Levi, que a Tinta da China acabou de editar em Portugal, Pedro Mexia, subdirector da Cinemateca, avisa que o livro não trata do "cinéfilo clássico", que "sabe tudo do expressionismo alemão e nunca confunde William Wyler com William Wellman", mas antes de "uma criatura mais recente, cujo modelo não é Truffaut mas Tarantino", que "conhece as referências canónicas mas exibe um gosto mais contemporâneo e abrangente", que "não cresceu em cinematecas mas em lojas de vídeo".
Essa ideia de que a relação do espectador com o cinema mudou radicalmente está também em boa parte das curtas-metragens do filme colectivo "Cada Um o Seu Cinema", encomendado pelo festival de Cannes para comemorar o seu 60º aniversário, em 2007, e que ontem chegou finalmente aos cinemas portugueses. O que distingue a nova da velha cinefilia não passa apenas pelas facilidades de acesso, mas também por uma subversiva indiferença ao cânone de cineastas e obras que gerações de académicos e críticos foram consagrando. João Félix gosta de "África Minha", de Sydney Pollack, e admite-o com o prazer malandro de quem confessa um pecado. David Teles Pereira é fã da saga "The Evil Dead", de Sam Raimi, ou de "A Noite dos Mortos Vivos", o filme de estreia de George Romero, e di-lo com a mesma naturalidade com que fala da sua admiração por "Roma, Cidade Aberta", de Rosselini, ou "8 1/2", de Fellini, que viu em ciclos da Cinemateca.
Ouvir João Félix contar como se tornou cinéfilo é visitar um mundo desaparecido, no qual os projeccionistas paravam o filme para repetir alguma cena mais vagamente erótica - "um daqueles beijos à Hollywood, quase sempre muito mal dados" - que a assistência acabara de aplaudir. Ainda hoje, a sala de cinema é o lugar onde se sente mais confortável, embora lamente já não ver "o cone de luz, com aquelas poeiras a cintilar".
Fanático do rigor na exibição, fica doido quando os projeccionistas se enganam e usam o "cinemascope" num filme com outro formato, e também detesta o ruído de pipocas nos novos multiplex. Personificação do cavalheiro afável e vagamente distraído, custa a crer que um dia destes, numa sala de cinema, tenha dado uma sonora chapada num rapaz que insistia em não se calar enquanto o filme corria no ecrã. "Para ver os extremos de violência a que pode chegar um cinéfilo!", diz, como se fora um dr. Jekyll a lamentar os desmandos de mr. Hyde.
Godard e Godzilla

David Teles Pereira tem pena de o horário de trabalho já não lhe permitir frequentar a Cinemateca, onde viu "ciclos de Murnau, Bresson, Godard, Truffaut ou Tarkovsky", e lamenta o fim de programas como o "Cinco Noites, Cinco Filmes", da RTP-2, onde, recorda com nostalgia, "passaram durante uma semana inteira filmes sobre o Godzilla, japoneses e americanos". Hoje passa a vida a consultar a Internet e a folhear catálogos para descobrir mais uma pérola para a sua "colecção privada de filmes de terror e filmes 'exploitation'", uma busca que às vezes o obriga, quando não existe edição em DVD, a recorrer à pirataria na internet.
Se ouvir João Félix é viajar no passado, ouvir David Pereira é entrever um futuro em que "A Palavra", de Dreyer, ou "O Mundo a Seus Pés", de Orson Welles, poderão ter a mesma cotação no mercado cinéfilo de um filme de serial-killers no estilo "giallo" de Dario Argento, ou de um "Cannibal Killers", de Paul Naschy - nome artístico do espanhol Jacinto Molina -, protagonizado por um bandido free-lancer que é contratado pelos Yakuza e que se refugia na casa de uma família de canibais que cria porcos. Poeta e co-responsável por uma revista literária, David Pereira reconhece não ser, enquanto leitor, o equivalente do que é como cinéfilo, quer na facilidade com que, no cinema, assume o seu ecletismo de gosto, quer no próprio consumo de objectos que o cânone oficial menoriza. "O equivalente a um Spielberg ou um Coppola na literatura", diz, "seria o best-seller com alguma qualidade, que eu, realmente, não consumo".
Para lá da diversidade óbvia dos percursos, uma distinção relevante entre velhos e novos cinéfilos é que os primeiros desdenham as obras de culto dos segundos, mas o inverso não é necessariamente verdade. Félix admira a subtileza de Lubitsch, ou "aqueles movimentos de câmara extraordinários de Max Ophüls, que parece que se colam às personagens". E reconhece ser raro ver um filme recente que lhe encha as medidas. "O que hoje sinto é que muitos filmes presumem que o espectador é burro, que tudo tem de ser dito e mostrado, quando o grande segredo do cinema está nisso a que se convencionou chamar elipse."
Foi Vasco Menezes, ex-crítico de cinema do PÚBLICO, que gere uma loja de DVD's alternativos - a Cinecittà -, quem nos sugeriu que valeria a pena falar com David Teles Pereira. Era alguém que, explicou, tanto lhe comprava um Paul Naschy como um... Max Ophüls. A experiência na loja permitiu-lhe conhecer bem os circuitos da nova cinefilia. E confirma que os seus jovens clientes têm um gosto eclético: "Tanto levam Nouvelle Vague como filmes série B, e se compram filmes em DVD e pirateiam na Internet, muitos deles também frequentam a Cinemateca."
Nos limites do que a sobrevivência comercial permite, Menezes não resiste a impimir o seu gosto pessoal no estabelecimento. Educado "na televisão e nos clubes de vídeo, onde tanto se encontrava um James Bond como um Fellini", dá-lhe gozo promover misturas inesperadas, mas não arbitrárias. "Gosto de juntar o Russ Meyer ao Eisenstein, o Godard ao cinema de Hong Kong, o filme de capa-e-espada ao de samurais." Acha que não tem de haver "um gosto oficial" e que, ao lado da história canónica do cinema, corre "uma história paralela, dos filmes de série B, que também tem o seu próprio 'star system', as suas figuras míticas". Dá um exemplo. "Se me falam de actores cómicos e referem o Buster Keaton, apetece-me logo juntar ao grupo o Bruce Campbell, dos filmes "Evil Dead".
Vê a história do cinema como um contínuo cheio de regressos, citações e homenagens, e é isso que o fascina. "Perceber que o primeiro filme do Wes Craven é uma versão 'rape and revenge' [violação e vingança] de 'A Fonte da Virgem'", de Bergman". "O que descobri ao longo dos anos é que está tudo interligado", diz. "Um realizador como o Walter Hill fez o "The Driver" [1978], que é uma homenagem ao [Jean-Pierre] Melville e ao cinema de gangsters americano de série B, que por sua vez inspiraram a Nouvelle Vague francesa, e podíamos acrescentar o John Woo, que pega outra vez no Melville, ainda em Hong Kong, e depois os americanos pegam no Woo e até o levam para os Estados Unidos..." Admirador de cineastas da geração dos "movie brats", e em particular de John Landis e Joe Dante, "conhecedores enciclopédicos" de cinema, mas também do clássico Fritz Lang ou dos mestres italianos do terror e do macabro Dario Argento e Mario Bava, Vasco Menezes escolheria, enquanto filme determinante para o seu "crescimento como cinéfilo", "Cães Danados", de Quentin Tarantino. "Fiquei siderado."
O cinéfilo-programador

Tarantino, diz Mexia, "é o exemplo máximo dessa cultura popular regurgitada". No seu caso, o "click" que permitiu o salto para a cinefilia veio com "as primeiras coisas do Godard, como "À Bout de Souffle", quando percebeu que "há cinemas muito diferentes". Ainda hoje pensa que essa consciência é uma das marcas que define o cinéfilo. "Os que não são cinéfilos têm pouca noção disto; vêem um filme de que não gostam e dizem: 'Isto não é cinema'."
O subdirector da Cinemateca acha que "tudo mudou quando a cinefilia se libertou da sala de cinema", porque "as pessoas têm agora acesso aos filmes através do DVD e da Internet e cada um pode ser o seu próprio programador". Embora tenda a concordar com Félix na convicção de que "a experiência da sala é mais ou menos insubstituível", acha que "é melhor ver filmes em DVD do que não os ver".
Não o convencem os pessimistas que acham que as possibilidades tecnológicas hoje disponíveis na produção de filmes, e as mudanças nos hábitos dos consumidores, ditarão, em breve, a morte do cinema. "Mais depressa morrem os jornais nos quais se escreve sobre a morte do cinema." Acredita, sim, que o digital será uma transformação radical, mas lembra que esta é uma arte que já viveu a passagem do mudo ao sonoro, e que "hoje não temos bem a noção do que isto implicou para toda a indústria do cinema".
Tal como o cinema, a cinefilia também muda. Na introdução que escreveu para o dicionário de Kamp e Levi, Mexia diz mesmo que "cinéfilo" é uma palavra que "caiu em desuso" e que "sugere um mundo outrora novo e admirável mas que entretanto se tornou museológico". Naqueles que hoje poderiam corresponder ao conceito, observa "uma grande tribalização de gosto, pessoas que vêem cinema asiático e só vêem aquilo, gente que muito erudita e que sabe tudo sobre o seu cantinho, mas que se calhar nunca viu um Antonioni". No passado recente, acrescenta, "um cinéfilo tinha de ter visto os russos, o expressionismo alemão, o cinema clássico norte-americano, o novo cinema europeu - hoje, isto que era o be-á-bá já não integra o currículo obrigatório."
A cinefilia passou também a ser uma actividade de caçador solitário. David Pereira devora as suas presas em casa, sozinho, sem ninguém ao lado com quem discutir os filmes, embora mantenha algum diálogo virtual, através da Internet, com outros jovens cinéfilos de gostos afins. Nada de parecido com o que conta João Félix, que, aos 15 ou 16 anos, ia ver os filmes de Bergman com amigos, e que depois passava horas a discuti-los, dando voltas intermináveis a um jardim público.
O regresso às salas

Sensivelmente da mesma idade que David Pereira, Guilherme Blanc, promotor de projectos de cineclubismo universitário e um dos subscritores do abaixo-assinado que, recentemente, veio exigir a criação de um pólo da Cinemateca no Porto, coloca várias reservas a este retrato do novo cinéfilo como um comprador compulsivo de DVD, de gostos ecléticos, que trocou a sala pelo sofá. "Os DVD são objectos de luxo para uma pessoas que ainda está a estudar, e não posso adquirir os suficientes para alimentar a minha cinefilia", diz. E, "por razões tecnológicas", também não pirateia na Internet, embora reconheça, por regra, a sua geração "adquire cultura cinematográfica através do acesso a formatos ilegais". Do que gosta mesmo é de ver cinema em salas, e está convencido de que assistiremos ao regresso das salas independentes. Esse é, aliás, o tema da tese de mestrado que está a fazer em Londres. "Acho que vai haver um retorno à exibição clássica e que a tendência não é para a expansão dos multiplex, mas também não será um regresso ao modelo falhado da sala independente." Acredita que a solução passa não apenas por assegurar o conforto que as velhas salas não tinham, e por recuperar espaços de socialização que tinham, mas também por levar cineastas e actores às salas e por promover apresentações e debates. Não tendo meios para comprar os DVD que quer, e vivendo no Porto, onde "são escassas as oportunidades para se ver cinema realizado em décadas passadas, mas também cinema independente contemporâneo", descreve a sua cinefilia como "um amor platónico, impossível", mas acha que essa "dificuldade de consumação contribui para o exacerbar".
Blanc gosta da Nouvelle Vague, do expressionismo alemão e do neo-realismo italiano, mas não se entusiasma menos com filmes recentes, como "O Segredo de Um Couscous", de Kechiche, ou "A Turma", de Laurence Cantet. E acrescenta ainda às suas afinidades electivas realizadores como o norte-americano Wes Anderson ou o britânico Steve McQueen, autor de "Hunger", sobre a greve de fome de Bobby Sands. Também aprecia a primeira fase do holandês Paul Verhoeven, talvez a predilecção mais eclética num jovem cinéfilo que acha que as obras de Tarantino ou David Fincher "não justificam a aclamação com que têm sido recebidas". Sabe que "passa por maluco", porque "é a mesma coisa que, nos anos 60, alguém dizer que não gosta de Godard", mas defende que Tarantino é o exemplo de "um cinema que se mascara de arte alternativa, mas que tem uma gigantesca capacidade comercial, baseada numa percepção muito aguda dos gostos das novas gerações".
Guilherme Blanc reconhece que os DVD, a Internet, o acesso rápido a obras e a textos críticos, "tornam tudo mais simples a quem já é cinéfilo". Mas lembra que hoje não se vêem cartazes de cinema na rua e que houve "um grande retrocesso na exibição", o que o leva a colocar uma outra pergunta: "Não será hoje, afinal, mais difícil dar esse salto que transforma alguém num verdadeiro cinéfilo?"
 Luís Miguel Queirós (PÚBLICO)





15/5/2009
Somos todos cinéfilos?
"Cada um o Seu Cinema" e "Dicionário de Cinema para Snobs" desenterram uma palavra rodeada de equívocos. E deixam pistas para que se reflicta sobre o estado actual da cinefilia.
Um filme estreado esta semana nas salas portuguesas, "Cada um o seu Cinema", e um livro recentemente editado, "Dicionário de Cinema para Snobs", trazem à baila uma palavra: "cinefilia". Esta palavra, sublinhada a vermelho pelo corrector do processador de texto, mas utilizada há tanto tempo e por tanta gente que já é tudo menos um neologismo, ainda quer dizer alguma coisa?
Digitamos "cinefilia" no Google. O mais perto que ficamos de uma entrada dalgum dicionário "online" é a Wikipédia em língua portuguesa: "quem se interessa pelo cinema é considerado cinéfilo". Vago: basta dar uma volta pela expressão máxima da democracia opinativa, a blogosfera, para se perceber que toda a gente se "interessa" pelo cinema. Somos todos cinéfilos?
Convém desvalorizar a etimologia. Decomposta, a palavra "cinefilia" quer de facto designar um "amor pelo cinema". Como é feio julgar a qualidade do amor dos outros, tanto o indivíduo que passa os dias enfiado na Cinemateca como o que sai de casa uma vez por ano para ver o filme que ganhou os óscares têm igual legitimidade para se reclamarem "cinéfilos". Mas, e é aqui que convém perder de vista a etimologia, historicamente a palavra "cinefilia" - inventada, como tantas coisas relacionadas com a análise a percepção do cinema, pelos franceses - quis designar mais do que o seu etimológico amor. Antes, uma relação especial, uma condição quase ontológica, uma "cultura", como diz a entrada para "cinéphilie" na versão francesa da Wikipédia. Aliás, reproduzimos daí um parágrafo, absolutamente justo: "a cinefilia foi uma cultura porque possuía os seus próprios códigos distintivos e o seu próprio discurso. Ser cinéfilo era ser, ao mesmo tempo, espectador e crítico. Neste sentido a cinefilia foi uma prática de vida, a sós ou em grupo, entendida como forma de reflectir a arte e o mundo".
Repare-se no pretérito: "a cinefilia foi". A cinefilia, neste sentido histórico, a cinefilia "clássica", foi um fenómeno localizado no espaço e no tempo - Paris, anos 50 e 60, a Cinemateca Francesa, a "nouvelle vague", os "Cahiers" e a "Positif", e portanto, irrepetível nos mesmos termos. O que provocou foi uma imensa onde de choque, que espevitou o "amor absoluto" pelo cinema em muita gente, e previu toda a instintiva capacidade de "replicação" dessa cultura e dessa "prática de vida" que viria a ser demonstrada por jovens de todas as gerações futuras. Que, descobrindo textos de Godard, de Daney, de Skorecki, escritos muitos anos antes de eles próprios terem nascido, sentem-se imediatamente "reconhecidos" por eles, tanto quanto reconhecem exactamente aquilo de eles estão a falar. Alguns cantos da blogosfera também provam que isto se repete ainda hoje.
O "Dicionário de Cinema para Snobs", usando a artimanha do "snobismo" para distinguir uns cinéfilos dos outros neste tempo em que todos são cinéfilos, propõe uma espécie de guia introdutório à cinefilia enquanto "cultura", que com alguns postulados e referências "modernas" não deixa de reflectir e integrar elementos oriundos da cinefilia "clássica". É um livro que, embora lacunarmente, e com diversos problemas (vontade de ter graça a todo o custo e uma ligeireza enervante em muitas entradas), tenta propor um esboço de reflexão sobre a possibilidade e os modos da cinefilia contemporânea, e nesse sentido talvez não seja um livro completamente inútil, por exemplo, para todos aqueles que se escandalizam quando o crítico não gosta de "Slumdog Millionaire" e se põem a falar das "massas". Por outro lado, faz o elogio da curiosidade, a curiosidade que falta às "massas", a vontade de ver, de descobrir o que está por baixo das pedras, e que é absolutamente constitutivo da cinefilia - mesmo, ou sobretudo, quando é confundido com "pseudo-intelectualice" e "elitismo". Ou "snobismo".
Já "Cada um o seu Cinema" evoca um elemento fundamental da cinefilia clássica: a sala de cinema. Nalguns casos - os melhores, como o episódio de Cronenberg - a conjugação da sala e da cinefilia é conduzida a um extremo "apocalíptico", mas com uma frieza - ainda que magoada - que evacua toda a xaroposa nostalgia que outros casos não evitam (Lelouch, Iñarritu...). Neste sentido, e no seu melhor como no seu pior, "Cada um o Seu Cinema" esboça as duas vertentes: fazer o seu requiem como maneira de lhe prestar justiça e, de algum modo, conservar a sua validade, ou prolongar os seus aspectos mais folclóricos, transformando-a em nostalgia barata.
Luís Miguel Oliveira (PÚBLICO)

UM AL BERTO POR DIA NEM SABE AS VERDADES QUE LHE DIZIA - #5



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PASSO OS DIAS a observar os objectos
sinto o tempo devorá-los impiedosamente

já não somos marinheiros nem pastores
nem ferradores nem vendedores de animais
perdemos a sabedoria dos remotos ofícios
ignoramos o ardor dos corpos estendidos no orvalho
a beleza da noite desprendendo fogos
o aroma espesso dos frutos... a fecunda alegria

arrasto comigo o cheiro amargo da memória
mascaro os dias com palavras cujo significado perdi
mas nenhuma felicidade vem alojar-se no coração

o mundo que te rodeou continua inaudível e perdido
apodrece nas fotografias arrumadas dentro da gaveta
debaixo da roupa engomada

o aparo da caneta imobiliza por trás de cada palavra
o som dos poucos objectos com que partilhámos a vida

fica com as máscaras de tinta a morderem-te a noite
eu parto para qualquer país onde não exista

UM AL BERTO POR DIA NEM SABE AS VERDADES QUE LHE DIZIA - #4



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(excerto com supressões)

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras
era o sol que cegava
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas
que alguma vez me visite a felicidade





SEM TÍTULO.



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Burning 
The Whitest Boy Alive

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