Acordei com o meu pai a berrar "Morreu o Michael Jackson. Ele era meu fã...". Borrifei-me completamente, não estivesse eu a levantar-me do sonho em que me morria o meu irmão. Passo a explicar: chego eu ao hospital ainda sem saber porque fui. Chega uma enfermeira e diz "Olhe, morreu o seu irmão." "Já? Mas ainda agora cheguei!" "Pois foi." "Como é que morreu?" "Com a boca aberta". E foi isto, confirmada a morte começa toda uma maratona de choro, berro, pontapé (admiro-me agora do desleixo deste meu sonho, tão incompleto em adereços. Nem uma máquina de chocolates havia para eu sovar. Consolei-me com as paredes), guinchos (não fosse ele o irmão que me oferece livros no aniversário), nonsense (chega, que eu sei que ele vem aqui a ler isto, sentir-se sobrevalorizado e chantagear-me-á assim que surja oportunidade). Estava eu já no estado lastimável em que se começa a querer perguntar coisas a Jesus e volta a enfermeira: "Olhe, afinal foi engano. Mas era um muito parecido" Mando-lhe uma chapadona e digo "Você é parva!" Entretanto, calculo que desperto pelo barulho do estalo, aparece o meu irmão com um blazer da Zara. Estava na hora de uma das cinco orações diárias e os muçulmanos presentes, a querer pôr-se de gatas para Meca, começam um reboliço com as cadeiras da sala de espera, que muçulmanos há-os em Coimbra - resmas, resmas e resmas de muçulmanos há em Coimbra, ui se os há - tapetes é que não. E ficámos ali os dois: a debater se será Meca verde, que nos tem parecido que sim.
[ Sempre observei no meu irmão a hábil arte de dormir com os olhos semiabertos, ao jeito de um morto-vivo. A boca, igualmente ]
[ Sempre observei no meu irmão a hábil arte de dormir com os olhos semiabertos, ao jeito de um morto-vivo. A boca, igualmente ]
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