O Saco.
3-NOV-2007
*** 3-NOV-2007
Procura-se Saco de equipamento desportivo, preto, de marca Nike, com alguma roupa desportiva e um par de sapatilhas, perdido na tarde de 2 de Novembro de 2007, na gare rodoviária da Cidade. Agradece-se a quem o tenha em sua posse que o entregue nessa mesma gare ou contacte o NÚ. ME. RO.
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Exige-se
A devolução de um saco de equipamento desportivo preto, relativamente feio, um pouco malcheiroso, com pega, de marca Nike, __(o que significa ostentar um símbolo insignificante que por si só torna a relação qualidade-preço do objecto em questão uma grandessíssima merda) com alguma roupa desportiva, __(entenda-se: um par de calças pretas com uma tira vermelha de que, por sinal, gostava bastante e de custo relativamente baixo. Como não vou encontrar muito mais oportunidades destas EXIJO-AS de volta!; uma t-shirt nada interessante por sinal, preta, branca e ligeiramente rosa, com a inscrição ‘Phoenix’ na frente, a qual se deverá ler ‘finix’ e não ‘fónix’; uns collants pretos dada a baixa temperatura do nefasto dia; uma sweat de capuz, cinza e zebrada, onde se poderá encontrar esboçada em lantejoulas prata-pirosinhas a inscrição ‘Wild Life’(acreditar na ameaça!) a qual não apreciava muito mas sendo oferenda de madrinha devia usar) e umas sapatilhas, __(de que gosto agora mais que nunca, que talvez cheirassem a cholé - não tenho olfacto e por muito que tente não arranjo voluntários p'ra dizer-me a que cheiram elas) perdido na nefasta tarde de 2 de Novembro de 2007, pela hora da sesta __(O sol era de Outono e portanto me fazia gostar desse dia. Desloquei-me à gare na categoria de acompanhante e debati durante a espera do autocarro, assuntos vários de que me não recordo com exactidão mas certamente da importância de uma comparação entre o Dragon Ball GT e o Z, isto na gare rodoviária que amaldiçoo-o e pouco frequento que frequentemente apinhada está de gentes todas diferentes e todas iguais, mais iguais que diferentes, gentes todas pouco estranhas e todas banais, que gritam, espalhafatam e arquitectam a minha enxaqueca (a mesquinhez saloia da terceira idade com a fruta da semana nas canastras, o cio jovem daquela minha vizinha desmiolada orgulhosamente ornamentado de leviandade e um te-le-mó-vel); a gare que tem bancos verdes onde me recordo sentada sem recordar lembranças de especial felicidade (antes frio) a não ser a de pacotes matutano em minutos precedentes às horas em que costumei apanhar autocarros-destino-casa onde não gostava de andar; cuja sala de espera tem radiadores de aquecimento desligados ou avariados três quartos do ano, sendo que o quarto quarto nunca corresponde aos três meses de Inverno; onde está o sorriso cínico do dono da loja de doces. Recordo as pastilhas e a excitação-à-5º ano pela chegada de remessas de novas parafernálias de doces em cujas caixas a inscrição ‘Novo!’ ou ‘Nuevo!’ a vermelho, circundados de um balão bicudamente recortado, geralmente amarelo: ele eram bombas ácidas, ele eram chupa chups com recheio, ele eram pastilhas Gorila de melão. Ou Bubblicious de algodão doce. Recordo ainda as esperas infinitas pelo autocarro das dezoito e trinta que na realidade era sempre às dezoito e quarenta e dois, a que precediam alheias ferozes disputas pelo recorde de pontuação máxima de Snake II em Nokias 33-10 ou 33-30, de capa azul ou cinzenta escura, ou de alternativas capas com golfinhos azuis que tomam de assalto ondas de oceanos, e com bonecada autocolada rosa que lá está porque está também noutros. Recordo ser sempre noite porque o autocarro que me levava era demasiado de manhã e o que me trazia de volta demasiado tarde. Recordo o chão sujo e os contrastes ao entrar na casa de banho (falta de papel no rolo, excesso dele no caixote do lixo). Vastas vezes essa gare fede a carapau frito, dado o restaurante fulo de petiscos, de preços convidativos apesar de tudo. Lembro algumas caras e a inquietação, todo o formigar. Lembro as histórias contadas a meu lado, por formigas, que cantam vitórias suas e maldizem a vizinha cigarra porque cantou. Lembro-me de me sentar, de esticar os pés e de os ver a eles e às sapatilhas. Lembro-me dos meus pés na gare e do frio dos meus pés por estarem na gare. Lembro-me de Dezembro na gare, que lá era relativamente bonito e genuíno mas só porque o é em todo o lado, nada mais. Lembro-me até de mim a correr para apanhar um autocarro, de caixa de presépio debaixo do braço a fim de lhe dar uso dias depois. Lembro-me de como já nessa altura a amaldiçoava e detestava. Reparo que tudo o que me separa desse tempo são estes centímetros de altura e esta melancolia. Isso e a falta do meu saco de equipamento). Exijo tudo de volta! Pede-se que se devolva na gare ou que se contacte o NÚ.ME.RO.
Dá-se recompensa: a quem me dê tudo de volta. perdoa-se a expropriação e dispensa-se a devolução do dito saco a esse alguém, caso me traga tudo de volta.
3 COMENTÁRIO(S):
Não... ñ te devolvo nada de volta. Ñ me apetece.
E uma pergunta desajeitada...
Esse cotonete É aquele que limpou a orelhinha cortada do feio VAN'GÔGO?
hasta B)'iL
Sim, que um gajo quando corta a orelha pensa logo é em enfiar lá uma cotonete porque tem que ir a correr para o hospital e parece mal ter lá coisas acumuladas. Engraçado é que ele tenha mudado de ideias e a rumo do hospital tenha cortado caminho para um bordel e acabou por oferecer a orelha lá à puta. Podia ter poupado uma cotonete.
Mas a crise é uma coisa actual, nessa altura não havia. Assim como nunca antes houve. Nessas alturas só havia hospitais, bordéis e croissants. Tanto que as pessoas diziam assim "não temos pão pra comer" e havia alguém que repondia "comam brioches!".
eu como brioches
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