Primeiro: digam-me o que disserem, acho que a Maria Velho da Costa não tinha nem a idade nem o direito de se deixar deslumbrar desta maneira.
Myra é um livro de passagens e de ideias interessantíssimas - a leitura vale, desde logo, por isso. Mais interessantes até a uma segunda, terceira, quiçá, quarta leitura. Porque se repara em pormenores que pareceram coisas banais à primeira mas que não o são, na realidade. A nível de escrita não tenho nada de que me queixar. Nem preciso, nem quero, nem devo; tampouco posso.
O que me chateia até ao tutano, neste livro, prende-se com a própria estória, que aparece desenrolada num conjunto de, como referi, passagens e ideias interessantíssimas mas, a meu ver, um tanto ou quanto deslocadas de contexto. Perdoem-me o desencanto, mas há muito que deixei de conseguir imaginar situações literárias de gabarito reportadas ao nosso pequeno rectângulo (tampouco à ilha da Madeira), principalmente quanto se pretende pejá-las de personagens de uma riqueza cultural que assenta que nem uma luva à Literatura mas que nada tem que ver com a nossa realidade social. E este caso é sintomático: Uma imigrante russa ao abandono numa praia... da Caparica; que, do alto dos seus 14 anos, passados em grande parte numa vida de clandestinidade e precariedade, decide baptizar um cão que encontra na praia de Rimbaud (dissimulando, no entanto, o nome para Rambô); encontrada depois por um camionista chamado... Kleber que a leva para uma quinta de uma pintora que acaba por se vir a perceber, mais tarde, ser sua amante. Por outra palavras, uma Paula Rego generosíssima que lhe mostra grandes filmes, e grandes livros e grandes je ne sais quois. E aqui entra a parte da citação, do deslumbramento, que se prolonga por todo o livro. Ele é Camões, Herbertos Helder, Pasolinis, nhó nhó nhó, nhó nhó nhós. Coisas de culto, coisas imprescindíveis. Há frases que parece que foram ali encaixadas para que se pudesse encaixar mais uma citação "Myra entende que o dia foi de passos em volta". Como se se tivesse de provar aos leitores alguma coisa; como se houvesse essa necessidade. Eu não precisava que me provassem nada, queria que me dissessem coisas que eu já não soubesse. É muito bonito um Pasolini sim senhora, e depois? A casa das citações e dos deslumbramentos é a dos 20, a minha. De se mostrar que se conhece isto e aquilo, e não sei quê e não sei que mais (e, quem sabe?, à pala disso, um ou outro engate com alguma categoria). Como nesses filmes de agora que gostam de apelidar de "indie": citações, referências, banda sonora disto, banda sonora daquilo. Indie is the new hype, e depois? Aborrece-me. As pessoas metem-se com os Nomes mas não os querem sofrer, querem mostrá-los.
Myra desce depois ao Algarve encontrando um mestiço de quem se enamora. E onde mora o rapaz? Numa cabana? No circo? Numa quinta? Não, numa casa inteligente! Daquelas com botões. Isto foi a gota final. Uma casa inteligente é tudo, tudo, tudo menos literária.
Mas isto sou eu a implicar, a apontar o dedo, a torcer o nariz. Como de costume. Apesar de tudo, na generalidade, gostei e, inclusive, recomendo.
Como sou muito estraga-fodas conto-vos o quase-fim, que é o seguinte: tanta coisa, tanta coisa e, vai-se a ver, e o Dom Juan, que tem uma casa inteligente, que tem uma égua e uma gata persa, filmes, filmes, filmes, vinis, vinis, vinis, óperas, óperas, óperas e não tem uma pila. É de um(a) leitor(a) perder a pica. E poderia agora dizer-se, quase literalmente, que sou uma grande estraga-fodas.
(Não tanto quanto a Maria, é certo.)
Myra é um livro de passagens e de ideias interessantíssimas - a leitura vale, desde logo, por isso. Mais interessantes até a uma segunda, terceira, quiçá, quarta leitura. Porque se repara em pormenores que pareceram coisas banais à primeira mas que não o são, na realidade. A nível de escrita não tenho nada de que me queixar. Nem preciso, nem quero, nem devo; tampouco posso.
O que me chateia até ao tutano, neste livro, prende-se com a própria estória, que aparece desenrolada num conjunto de, como referi, passagens e ideias interessantíssimas mas, a meu ver, um tanto ou quanto deslocadas de contexto. Perdoem-me o desencanto, mas há muito que deixei de conseguir imaginar situações literárias de gabarito reportadas ao nosso pequeno rectângulo (tampouco à ilha da Madeira), principalmente quanto se pretende pejá-las de personagens de uma riqueza cultural que assenta que nem uma luva à Literatura mas que nada tem que ver com a nossa realidade social. E este caso é sintomático: Uma imigrante russa ao abandono numa praia... da Caparica; que, do alto dos seus 14 anos, passados em grande parte numa vida de clandestinidade e precariedade, decide baptizar um cão que encontra na praia de Rimbaud (dissimulando, no entanto, o nome para Rambô); encontrada depois por um camionista chamado... Kleber que a leva para uma quinta de uma pintora que acaba por se vir a perceber, mais tarde, ser sua amante. Por outra palavras, uma Paula Rego generosíssima que lhe mostra grandes filmes, e grandes livros e grandes je ne sais quois. E aqui entra a parte da citação, do deslumbramento, que se prolonga por todo o livro. Ele é Camões, Herbertos Helder, Pasolinis, nhó nhó nhó, nhó nhó nhós. Coisas de culto, coisas imprescindíveis. Há frases que parece que foram ali encaixadas para que se pudesse encaixar mais uma citação "Myra entende que o dia foi de passos em volta". Como se se tivesse de provar aos leitores alguma coisa; como se houvesse essa necessidade. Eu não precisava que me provassem nada, queria que me dissessem coisas que eu já não soubesse. É muito bonito um Pasolini sim senhora, e depois? A casa das citações e dos deslumbramentos é a dos 20, a minha. De se mostrar que se conhece isto e aquilo, e não sei quê e não sei que mais (e, quem sabe?, à pala disso, um ou outro engate com alguma categoria). Como nesses filmes de agora que gostam de apelidar de "indie": citações, referências, banda sonora disto, banda sonora daquilo. Indie is the new hype, e depois? Aborrece-me. As pessoas metem-se com os Nomes mas não os querem sofrer, querem mostrá-los.
Myra desce depois ao Algarve encontrando um mestiço de quem se enamora. E onde mora o rapaz? Numa cabana? No circo? Numa quinta? Não, numa casa inteligente! Daquelas com botões. Isto foi a gota final. Uma casa inteligente é tudo, tudo, tudo menos literária.
Mas isto sou eu a implicar, a apontar o dedo, a torcer o nariz. Como de costume. Apesar de tudo, na generalidade, gostei e, inclusive, recomendo.
Como sou muito estraga-fodas conto-vos o quase-fim, que é o seguinte: tanta coisa, tanta coisa e, vai-se a ver, e o Dom Juan, que tem uma casa inteligente, que tem uma égua e uma gata persa, filmes, filmes, filmes, vinis, vinis, vinis, óperas, óperas, óperas e não tem uma pila. É de um(a) leitor(a) perder a pica. E poderia agora dizer-se, quase literalmente, que sou uma grande estraga-fodas.
(Não tanto quanto a Maria, é certo.)
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