GENIALIDADE CATÁRTICA ASSENTE.



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Tear Jerkers Estou aqui à espera que me ligues para me dizeres que está tudo bem e que voltas no final da semana, cheia de saudades. Aqui entre armas destruídas, enfeites da solidão, uma caneta e um dicionário, com um demónio a ditar-me as suas memórias enquanto pisa para lá e para cá o meu estômago – daí talvez esta intensa sensação de azia.

Sei que te tratei mal e tu sabes que sou bipolar, fácil de incriminar por coisas sem importância entre outras que não passam de acusações falsas. Não vou a lado nenhum, estou aqui a folhear revistas cor-de-esquecimento enquanto a ironia me dissolve. Sinto impulsos derrotados e a dizimação pela escrita de algumas ideias que julguei serem interessantes, velhas estrias num sorteio de sílabas e outros mais vagos distúrbios. Sento-me na cama e bebo concentrados e sumos com gás, passo a tarde a fumar charros e a ver desenhos animados, e sei que por esta altura devia deixar de ser um puto, mas para me tornar o quê? Encosto à boca intrusos, sorrisos forçados que se aguentam mal e estremecem logo que me perguntes de novo o que estou a fazer da vida. Muito pouco, quase nada. Se queres saber acho que esta dor na bexiga já é alguma infecção urinária e também estou a contar que a diabetes me apanhe antes dos trinta, depois logo hei-de preocupar-me com esses mais óbvios sinais que a morte espalha no nosso caminho. Por agora já fico contente quando não mijo fora dos limites da sanita. Às vezes até me sento e faço-o como as senhoras. Desde que comecei a ler por gozo (isto há coisa de dois anos) ando a ver cada vez pior ao longe. Às vezes penso nas vantagens que isso me pode trazer. Talvez um dia me apaixone por um borrão qualquer, uma tipa que me chateie menos que tu e goste mais de foder. Se ainda não compro jornais desportivos já faltou mais, quanto aos outros nem lhes pego, não me interessa o que se diz, não quero saber de astrologias, nem me preocupam as previsões meteorológicas. Nunca fiz um check-up embora tenha várias dores sem nome e, como sabes, até gostava que isso do aquecimento global fosse mesmo grave, para ainda ser um daqueles que vão ter o privilégio de ver este mundo afundar-se na sua merda. E pronto, não deve haver esperança para um gajo que escreve uma coisa destas, mas não te preocupes, lá mais para o fim vais ver que também eu, envelhecendo, hei-de vir para aqui já senil, meio decrépito, apagar-me a juventude com outros mais populares e super-líricos entusiasmos, desses de quem silencia a consciência enfiando corajosamente ____________o pé direito na cova, à espera que venha daí alguma luz, uma que doa um pouco menos que esta.

Diogo Vaz Pinto.

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